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A arte é machista? Museu do Prado de Madri faz seu 'mea culpa'

Escrava, bruxa, prostituta ou mãe: a representação da mulher na arte revela uma misoginia histórica que o Museu do Prado de Madri aborda em uma exposição fazendo o "mea culpa"

AFP
27/10/2020 às 09:27.
Atualizado em 24/03/2022 às 09:13

Escrava, bruxa, prostituta ou mãe: a representação da mulher na arte revela uma misoginia histórica que o Museu do Prado de Madri aborda em uma exposição fazendo o "mea culpa".

Inaugurada no início de outubro e prevista até março, "Convidadas" revela "uma ideologia, uma propaganda de Estado sobre a figura feminina", explica à AFP Carlos Navarro, curador desta exposição, a primeira do museu após o confinamento.

Pinturas, esculturas, fotografias ou vídeos entre 1833 e 1931 constituem esta exposição "sobre a mulher, a ideologia e as artes plásticas em Espanha".

Tratam-se de alguns "fragmentos" históricos que evidenciam o "pensamento burguês que quer validar o papel que a sociedade atribui às mulheres", continua Navarro.

O Prado, uma das maiores galerias de arte do mundo com dois séculos de história, se reconhece como co-responsável por esta misoginia com essa mostra.

A instituição reconhece que houve discriminação contra as mulheres artistas, mas também na forma como as mulheres foram representadas nas obras adquiridas pelo Estado e expostas pelo museu na época.

Este sexismo que as obras pintadas por homens emitem constitui a primeira parte da exposição, onde se descobrem que as mulheres raramente são protagonistas e que costumam ser relegadas a simples decorações ou acessórios em torno do homem.

Quando ocupam o primeiro plano, geralmente é contra sua vontade, como no caso de uma boêmia maltratada e excomungada em uma tela de Antonio Fillol Granell de 1914 intitulada "A rebelde".

Há também prostitutas com rostos cansados em numerosas pinturas ou outra que suplica à sua madame sob o olhar indiferente de um cliente fumando um cachimbo no fundo de um quarto sórdido ("A besta humana", Antonio Fillol Granell, 1897).

Ou modelos forçadas a posar nuas, chorando, numa época em que "não havia limites para a idade ou a violência do nu", explica Navarro diante de meninas nuas que desprezam o público ("Crisálida" em 1897 e "Inocência" em 1899 de Pedro Sáenz Sáenz) ou da imagem de uma escrava acorrentada ("Escrava à venda", José Jiménez Aranda, 1897).

Algumas obras empregam uma misoginia mais discreta, como "Soberba" (1908) de Baldomero Gili, com uma mulher elegante cujas roupas se confundem com a plumagem de um pavão atrás dela. Camuflada por uma estética elegante, era comum representar mulheres com certos atributos como o pavão, símbolo da vaidade, para encarnar os supostos defeitos do gênero feminino.

O visitante também poderá contemplar a cena censurada do filme mudo "Carmen" (1913), quando o rosto da personagem principal se ilumina de paixão quando um homem morde suas costas.

O Prado recupera também dezenas de obras pintadas por artistas que a história não colocou no lugar que mereciam: muitas naturezas mortas mas poucos retratos, que antes eram reservados a autores do sexo masculino.

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