Depois de meses de preparativos, o conselho de supervisão do Facebook começa a avaliar as decisões da plataforma sobre determinados conteúdos considerados problemáticos, com o objetivo de estabelecer jurisprudência após a análise de seus seis primeiros casos
Depois de meses de preparativos, o conselho de supervisão do Facebook começa a avaliar as decisões da plataforma sobre determinados conteúdos considerados problemáticos, com o objetivo de estabelecer jurisprudência após a análise de seus seis primeiros casos.
O gigante da mídia social agiu corretamente ao deletar uma captura de tela de tuítes do ex-primeiro-ministro da Malásia Mahathir Mohamad afirmando que "os muçulmanos têm o direito de ficar com raiva e matar milhões de franceses pelos massacres do passado"?
O usuário que retransmitiu esses comentários em sua conta, sem legenda, garante que queria divulgar as "palavras horríveis" do ex-dirigente.
Este é um dos seis casos em que os 20 conselheiros terão de votar, segundo nota divulgada nesta terça-feira (1).
Os outros cinco estão relacionados a conteúdo que viola as regras da rede sobre discurso de ódio, organizações perigosas ou nudez.
Eles estão relacionados, entre outros fatos, às tensões políticas na Birmânia, ao conflito entre o Azerbaijão e a Armênia e a uma citação nazista em um contexto americano.
"O objetivo, com esses casos emblemáticos, é poder criar nossas armas e, esperamos, jurisprudência", explicou à AFP Julie Owono, diretora da ONG Internet Sem Fronteiras e membro do conselho de vigilância.
O projeto de uma espécie de Supremo Tribunal, que dá a última palavra em conteúdos polêmicos nas redes Facebook e Instagram, foi anunciado no final de 2019 por Mark Zuckerberg.
O CEO do grupo californiano tem sido alvo de críticas e investigações há anos sobre suas políticas de contenção, consideradas muito frouxas.
O conselho, de até 40 membros, responde a uma fundação independente, dotada de 130 milhões de dólares pelo grupo de tecnologia dos Estados Unidos.
O Facebook é criticado principalmente por sua falta de resposta a chamados à violência, ligados, por exemplo, aos massacres de rohingyas em Mianmar, em 2017, e ao recente assassinato do professor Samuel Paty na França.
Os membros - uma vencedora do Prêmio Nobel da Paz iemenita, um ex-juiz federal dos EUA e outras figuras da sociedade civil - vão estudar os casos em pequenos grupos, com a ajuda de relatórios de especialistas e até mesmo do público, com comentários e reações online.
O conselho, então, decidirá por votação e comunicará ao Facebook as suas deliberações, que serão vinculantes (de aplicação obrigatória) no caso de julgamentos, ou não vinculantes, no caso de "pareceres consultivos" ou recomendações.