INTERNACIONAL

A difícil reconstrução de cidades fantasmas em Fukushima

Masakazu Daibo reabriu o restaurante de enguias de sua família em Namie, uma pequena cidade do nordeste do Japão, evacuada após a catástrofe nuclear de Fukushima, em março de 2011

AFP
09/03/2021 às 06:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:28

Masakazu Daibo reabriu o restaurante de enguias de sua família em Namie, uma pequena cidade do nordeste do Japão, evacuada após a catástrofe nuclear de Fukushima, em março de 2011. Mas por enquanto tem apenas vizinhos.

O restaurante continua cercado de prédios abandonados, cobertos por ervas daninhas, no antigo centro de Namie, bem ao lado da estação ferroviária.

Dez anos depois do terremoto submarino que originou um tsunami que provocou, por sua vez, o pior acidente nuclear do mundo desde Chernobyl, as cidades que enfrentam a ameaça da radiação se perguntam: como reconstruir uma comunidade?

Nos meses que se seguiram à catástrofe foi proibido o acesso a até 12% do departamento de Fukushima, ou seja, mais de 1.650 km2. Até 165.000 habitantes acabaram deslocados por obrigação ou escolha.

As autoridades declararam muitas regiões como seguras após as operações de descontaminação realizadas nos últimos anos.

Mas muitos dos deslocados de Fukushima hesitam em voltar, apesar dos incentivos financeiros do Estado e dos aluguéis baratos.

Masakazu Daibo se atreveu a dar o passo no ano passado para se ocupar do restaurante que seu avô tinha em Namie antes da catástrofe, a cerca de 9 km da usina nuclear acidentada.

Namie e outras 11 cidades vizinhas faziam parte de uma zona de exclusão ao redor da usina nuclear, acessível apenas para visitas breves durante anos.

"Não havia ninguém, mas a cidade permanecia. Era como um cenário de filme", conta à AFP Daibo, de 65 anos. "Só via cães de rua, vacas e porcos".

Por causa da radiação, foi preciso derrubar as paredes e Masakazu Daibo teve que jogar fora tudo o que havia no interior.

Agora, espera que seus clientes recuperem, graças a ele, o "sabor de antigamente". "Espero que a minha presença seja um raio de sol para esta cidade".

As restrições foram suspensas para a quinta parte do território de Namie, cuja população atual (de 1.580 habitantes) representa apenas 7,5% da de antes de março de 2011.

Cerca de 36% dos moradores têm 65 anos ou mais, em comparação com 29% da média nacional. Os colégios do município têm apenas 30 alunos, contra os 1.800 de dez anos atrás.

O Japão sofre um forte processo de envelhecimento demográfico, mas no caso de Namie "é como se o futuro em 20 anos tivesse chegado de uma vez", explica Takanori Matsumoto, um funcionário municipal.

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