INTERNACIONAL

A fome avança no Brasil assolado pela pandemia

Nas barracas de distribuição de alimentos para moradores de rua em cidades brasileiras, cada vez mais surgem necessitados e as filas aumentam

AFP
31/03/2021 às 12:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:05

Nas barracas de distribuição de alimentos para moradores de rua em cidades brasileiras, cada vez mais surgem necessitados e as filas aumentam. A fome está avançando junto com a pandemia, que não dá trégua.

No centro de São Paulo, o aposentado Miguel da Silva já tem nas mãos um prato de arroz, verduras e proteína animal, depois de fazer fila com cerca de 300 pessoas, a maioria mendigos.

"É melhor vir aqui do que estar pedindo" na rua, confessa este senhor de 70 anos, que afirma que sua pensão foi desviada e o pouco dinheiro que recebe é usado para pagar o aluguel.

Sob o sol implacável do Rio de Janeiro, Mario Lima espera sua comida, rodeado por centenas de idosos, grávidas e moradores de rua. Para muitos, será a única refeição do dia.

"Tudo está caro. A alimentação que dão aqui todo dia, se for comprar, dá mais de mil reais por mês", diz Lima, de 72 anos, a quem o salário mínimo (R$1.045) que recebe como aposentadoria, mal dá para o aluguel e algumas despesas básicas.

Miguel e Mario são apenas duas faces do empobrecimento da sociedade brasileira em tempos da covid-19, que já deixou mais de 317.000 mortos e milhões de desempregados, novos pobres... E famintos.

A pandemia acentuou uma tendência dos últimos seis anos no país, grande produtor mundial de alimentos.

Em meados de 2020, o chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, alertou que o Brasil caminhava a "passos largos" para retornar ao mapa mundial da fome, do qual saiu em 2014 e ao qual entram os países com mais de 5% da população em extrema pobreza.

O Banco Mundial estimava então que 5,4 milhões de brasileiros se enquadrariam nesta faixa em 2020, para um total de 14,7 milhões da população de 212 milhões de habitantes.

"Este é claramente o momento mais assustador que vivemos no combate à fome", afirma Rodrigo Afonso, diretor executivo da Ação da Cidadania.

Afonso lembra que quando essa ONG foi fundada em 1993 para combater a fome, o flagelo se concentrava nas regiões Nordeste e Norte do Brasil. "Hoje, onde quer que você vá, você encontra porções gigantescas de famílias incapazes de se alimentar" e "isso está piorando".

Em pesquisa realizada em novembro, a Fundação Getúlio Vargas constatou que quase um terço da população sofre de insegurança alimentar.

O governo de Jair Bolsonaro, que minimizou a pandemia, auxiliou desde abril passado quase um terço da população com um subsídio de 600 reais, reduzido para 300 em outubro e abolido em janeiro.

A ajuda foi um alívio considerável, mas os mais necessitados já passaram três meses à deriva em meio ao maior índice de desemprego desde 2012 (13,9 milhões de desempregados em 2020), o aumento sustentado dos preços e o pior momento da pandemia.

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