INTERNACIONAL

A interferência humana na biodiversidade na origem das pandemias

O aparecimento do coronavírus que já deixou mais de 100.000 mortos no planeta procede do mundo animal e foi favorecido pela atividade humana que, se nada mudar, pode provocar o surgimento de outros vírus semelhantes, alertam os especialistas

AFP
11/04/2020 às 11:19.
Atualizado em 31/03/2022 às 04:20

O aparecimento do coronavírus que já deixou mais de 100.000 mortos no planeta procede do mundo animal e foi favorecido pela atividade humana que, se nada mudar, pode provocar o surgimento de outros vírus semelhantes, alertam os especialistas.

As zoonoses, nome dado a doenças ou infecções transmitidas de animais para humanos, como tuberculose, raiva ou malária, não são novas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 60% das doenças infecciosas humanas são de origem animal, uma porcentagem que chega a 75% no caso das chamadas doenças "emergentes", como ebola, aids, gripe aviária, SARS ou zika.

"O surgimento de doenças zoonóticas está frequentemente associado a mudanças ambientais", consequência das "atividades humanas, da modificação do uso da terra e das mudanças climáticas", aponta o PNUMA em um relatório de 2016.

Segundo Gwenaël Vourc"h, vice-diretora da unidade de epidemiologia veterinária do INRAE, um instituto público de pesquisa francês, "a destruição de mais e mais ecossistemas multiplica os contatos" entre as espécies.

O desmatamento, a agricultura ou a urbanização que modificam o equilíbrio entre as espécies servem como "ponte" com os seres humanos, segundo os cientistas.

"O processo que leva um micróbio, como um vírus, de uma população de vertebrados - como morcegos - para humanos é complexo, mas é provocado pelo homem", diz Anne Larigauderie, secretária executiva do IPBES, o painel de especialistas da ONU sobre biodiversidade.

Além da pandemia atual, o IPBES estima que as zoonoses deixam cerca de 700.000 mortos a cada ano.

Roedores, primatas e morcegos são os principais hospedeiros da maioria dos vírus transmitidos aos seres humanos (75,8%), de acordo com um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos antes do aparecimento da COVID-19 e publicado na quarta-feira.

Os animais domésticos também são portadores de 50% das zoonoses identificadas até o momento.

O estudo indica que as espécies selvagens que mais compartilham vírus com os seres humanos são precisamente "aquelas cuja população está caindo devido à exploração e perda de habitat".

"Estamos modificando os territórios (...) o que aumenta a frequência e a intensidade dos contatos entre humanos e animais selvagens e cria as condições ideais para transferências virais", diz Christine Johnson, da Escola de Veterinária da Universidade da Califórnia, que lidera o estudo.

Segundo Anne Larigauderie, essa tendência continuará e a frequência de pandemias aumentará devido a mudanças no uso da terra, "combinadas com o aumento do comércio e das viagens".

Portanto, é necessária uma resposta sistêmica, de acordo com Gwenaël Vourc"h.

"Além da resposta indispensável a cada epidemia, devemos refletir sobre o nosso modelo", segundo a especialista, e "refletir especificamente sobre o nosso relacionamento com os ecossistemas naturais e os serviços que eles nos fornecem".

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