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À sombra da guerra no Tigré, massacres aumentam no oeste da Etiópia

Na noite anterior ao Natal ortodoxo, no início de janeiro, o sacerdote etíope Girmay Getahun, com sua bata branca e a Bíblia nas mãos, chegou a sua igreja por uma estrada de terra para preparar as cerimônias do dia seguinte

AFP
12/02/2021 às 11:11.
Atualizado em 23/03/2022 às 17:44

Na noite anterior ao Natal ortodoxo, no início de janeiro, o sacerdote etíope Girmay Getahun, com sua bata branca e a Bíblia nas mãos, chegou a sua igreja por uma estrada de terra para preparar as cerimônias do dia seguinte.

Por volta da meia-noite, homens armados invadiram sua aldeia no oeste da Etiópia, na região de Benishangul-Gumuz, obrigando-o a fugir e se esconder na floresta por dois dias.

Ao retornar, uma visão de horror o aguardava: os oito trabalhadores temporários que hospedava foram assassinados, as últimas vítimas de uma série de massacres que causaram centenas de vítimas e dezenas de milhares de deslocados.

A violência étnica que afeta o oeste da Etiópia, especialmente a zona de Metekel, começou antes do lançamento, no início de novembro, de uma vasta operação militar do governo contra as autoridades dissidentes da região do Tigré (norte).

Aumentou durante a operação, mostrando as tensões sangrentas que fraturam o segundo país mais populoso da África (cerca de 110 milhões de habitantes) desde a chegada ao poder em 2018 do primeiro-ministro Abiy Ahmed, Nobel da Paz de 2019.

Em novembro, 34 moradores foram mortos em Metekel no ataque a um ônibus. No final de dezembro, um dia antes de uma viagem de Abiy à área, mais de 200 pessoas foram mortas em um massacre noturno, algumas queimadas enquanto dormiam. Em janeiro, um ataque causou 80 mortes.

Enquanto os observadores ainda se perguntem o que está por trás dessa violência, o medo de novos massacres é tangível.

O governo revelou recentemente sua intenção de formar uma milícia formada pelos deslocados de ataques anteriores para retornar a Metekel e "proteger" os que permaneceram.

Em um acampamento para deslocados na cidade de Chagni, a leste de Metekel, o padre Girmay é um dos muitos moradores que apoiam essa iniciativa.

"Não apoio totalmente a ideia de formar uma milícia, porque do meu ponto de vista é como dizer "matem uns aos outros". Mas se houver outra possibilidade e (os agressores) não estiverem desarmados, teremos que treinar recrutas daqui", explicou à AFP.

Até agora, Abiy não forneceu explicações para os assassinatos de Metekel.

Diante dos deputados, disse em outubro que os autores estavam recebendo treinamento no vizinho Sudão, e em dezembro assegurou que os ataques visavam retirar as tropas da operação em Tigré.

Mas não forneceu nenhuma evidência para essas alegações.

No acampamento de Chagni, localizado na região Amhara, predominam as teorias de disputas de propriedade de longa data.

A maioria dos 20.000 habitantes do campo é do grupo étnico amhara, o segundo maior do país, e muitos deles falam de um "genocídio amhara" ocorrido nesta parte do país e perpetrado por milicianos locais gumuz.

Segundo eles, os ataques visam tirar os lavradores amhara das terras que os gumuz trabalharam por muito tempo.

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