INTERNACIONAL

Abuso sexual infantil on-line dispara no confinamento da pandemia

A coincidência de jovens privados de escola e predadores trancados em suas casas pela pandemia criou um coquetel explosivo que causou um grande aumento no abuso sexual on-line contra crianças em todo mundo - alertaram ONGs e a polícia

AFP
09/12/2020 às 10:41.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:58

A coincidência de jovens privados de escola e predadores trancados em suas casas pela pandemia criou um coquetel explosivo que causou um grande aumento no abuso sexual on-line contra crianças em todo mundo - alertaram ONGs e a polícia.

Vários pedófilos aproveitaram as restrições ligadas à covid-19 para entrar em contato com menores, com frequência em países em desenvolvimento, como Filipinas, ou Indonésia, por redes sociais, sites de videogames, ou "dark web".

Na Austrália, a Polícia Federal recebeu mais de 21.000 denúncias de abuso sexual infantil nos últimos 12 meses até junho de 2020, 7.000 a mais do que no mesmo período no ano anterior.

A polícia atribui esses "incríveis" números "diretamente" ao fato de pedófilos e crianças, sem escola, passarem mais tempo em casa, de acordo com Paula Hudson, investigadora da Polícia Federal australiana.

"Os confinamentos relacionados à covid-19 criaram um coquetel explosivo propício à exploração sexual on-line de crianças", constata em Manila John Tanagho, da ONG International Justice Mission (IJM), que luta contra o tráfico sexual.

O governo filipino registrou um aumento espetacular de 260% nas denúncias de abusos contra crianças entre março e maio deste ano, período de estrito confinamento no país, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Os investigadores até "viram fóruns específicos discutindo as oportunidades que surgiram durante a covid", e um desses fóruns tinha mais de 1.000 membros, de acordo com Paula Hudson.

Em países em desenvolvimento, onde famílias trancadas em suas casas perderam empregos e renda, as crianças às vezes são exploradas pelos próprios pais, que transmitem imagens ao vivo para predadores em países ricos, muitas vezes com um simples telefone.

"Os abusos atendem a um pedido, são pagos e consumidos ao vivo por criminosos de todo mundo, que não precisam sair do conforto de suas casas", denuncia Tanagho.

Essas crianças sofrem abusos durante dois anos em média até serem socorridas. E, mesmo que sejam, o trauma persiste.

Segundo Mellanie Olano, assistente social da ONG IMJ nas Filipinas, as crianças vítimas estão frequentemente em estado de alerta, sofrem de problemas de sono e não conseguem se concentrar, ou controlar seus sentimentos.

Na Indonésia, país que se tornou terreno propício para os abusos sexuais contra crianças, assim como nas Filipinas, cerca de 20% dos jovens afirmam terem visto comportamentos predatórios on-line, aponta uma investigação da rede Ecpat que luta contra a exploração sexual de menores.

A polícia da Java Ocidental descobriu, recentemente, um grupo de mensagens on-line que oferecia "shows de nudez" ao vivo com vários menores.

É o caso, por exemplo, de uma adolescente de 14 anos convidada a fazer um strip-tease on-line, enquanto seus pais acreditavam que ela fazia os deveres de casa no quarto. Durante a pandemia, esse grupo chegou a ter 600 membros.

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