O adiamento dos Jogos de Tóquio 2020 devido à pandemia de coronavírus obriga a organização a fazer um esforço para simplificar o evento. Por conta desse reajuste, será que o evento olímpico conseguirá ser mais sustentável?
O comitê organizador de Tóquio 2020 indicou que a sustentabilidade é "um conceito-chave" nos Jogos, com vários elementos simbólicos, como medalhas feitas de metais reciclados ou o uso de hidrogênio para manter a Chama Olímpica acesa.
Mas ativistas e especialistas ambientais acusam a organização de ter metas ambiciosas e de desperdiçar a oportunidade oferecida com o adiamento do evento.
As políticas olímpicas para comprar produtos da pesca local, madeira, papel e óleo de palma têm "muitas lacunas", disse Masako Konishi, especialista do World Wildlife Fund (WWF), que assessora a organização dos Jogos sobre práticas ambientais adequadas.
Konishi acrescentou que o adiamento deu à organização uma boa oportunidade para elevar os padrões ambientais.
"Mas eles não mudaram nada", disse à AFP, acusando a organização de priorizar os interesses do setor.
O comitê Tóquio-2020 confirmou que os padrões de compra de produtos não estão mudando e, em seu último relatório sobre sustentabilidade nos Jogos, lançado em abril, argumentou que o fornecimento sustentável "continua a ser uma nova iniciativa no Japão".
"O progresso não será feito de uma só vez", acrescentou o relatório.
Hidemi Tomita, consultora especializada em responsabilidade social e ambiental, acredita que a sustentabilidade ainda está na "infância" do Japão.
O país está começando "muito atrás", mas os esforços feitos por Tóquio-2020 podem ser considerados um "progresso".
Mas, como declarou à AFP, "é um pouco decepcionante". "Eles deveriam ter colocado como principal meta, dando o exemplo e promovendo a inovação" com as empresas japonesas.
Um dos pontos emblemáticos dos esforços sustentáveis de Tóquio-2020 é o uso de madeira das florestas japonesas, com a intenção de reutilizá-las após o evento em outras finalidades.
Mas a organização reconheceu que também está usando madeira da Malásia e da Indonésia, países acusados de desmatamento.
Os organizadores insistem que toda a madeira foi comprada legalmente, mas os ativistas argumentam que não é fácil estabelecer sua trajetória e que há falhas em sua certificação.
Isao Sakaguchi, professor de direito da Universidade de Tóquio, criticou a forma como o peixe será comprado para os cardápios olímpicos. "Pescadores e políticos no Japão estão preocupados com o fato de que, se Tóquio-2020 adotar os mesmos códigos de Londres (2012) e Rio (2016), não haverá frutos do mar japoneses nos Jogos", revelou à AFP.
O resultado é que a organização aceita padrões que incluem não certificação e verificação, explicou.