INTERNACIONAL

Advertência de investidores pressiona Bolsonaro a preservar a Amazônia

O governo de Jair Bolsonaro mudou o tom de seu discurso sobre a preservação da Amazônia brasileira diante da forte pressão dos investidores, que reivindicaram mais esforços contra o desmatamento, mas ainda se esperam resultados concretos

AFP
17/07/2020 às 13:05.
Atualizado em 25/03/2022 às 20:13

O governo de Jair Bolsonaro mudou o tom de seu discurso sobre a preservação da Amazônia brasileira diante da forte pressão dos investidores, que reivindicaram mais esforços contra o desmatamento, mas ainda se esperam resultados concretos.

O simples fato de o vice-presidente Hamilton Mourão, a cargo do Conselho da Amazônia, se comprometer na quarta-feira a "reduzir a um mínimo aceitável" o desmatamento e os incêndios na maior floresta tropical do planeta é visto como uma pequena revolução.

Há pouco menos de um ano, Bolsonaro ficou furioso quando a comunidade internacional, com o presidente francês, Emmanuel Macron, à frente, alarmou-se ao ver que a Amazônia, um "bem comum da humanidade", era devorada por incêndios.

Bolsonaro optou por minimizar o problema e denunciar um complô "colonialista" que ameaçava a soberania do Brasil.

No fim de junho, porém, quando os fundos de investimento de Europa, Ásia e América do Sul que administram cerca de quatro trilhões de dólares ameaçaram retirar os investimentos do Brasil, a reação foi bem diferente.

"Agora, essa pressão que tem, não vindo de um chefe de Estado, mas vindo de empresários, dá outro tom", disse à AFP André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Durante videoconferência na semana passada, os investidores expressaram suas preocupações e o vice-presidente Mourão reconheceu que belas palavras não são suficientes.

"Em nenhum momento investidores se comprometeram com investimento, eles querem ver resultados, uma redução do desmatamento", disse Mourão após a reunião.

A ameaça dos investidores foi levada muito a sério pelo governo Bolsonaro, mais do que nunca necessitado destes recursos para impulsionar uma economia fortemente afetada pela crise do novo coronavírus.

"O governo, preparando a saída da crise, está contando com investimentos estrangeiros. Esses investimentos estrangeiros são importantes para uma série de áreas, saneamento, infraestrutura", avalia Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e presidente do Instituto de Relações Internacionais e de Comércio Exterior (IRICE).

Cerca de 20 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central do Brasil publicaram uma carta aberta na semana passada, afirmando que a falta de esforços contra o aquecimento global poderia ter consequências "bem maiores que os da atual pandemia".

Os ambientalistas não têm muitas expectativas com a mudança de discurso do governo, que já se disse disposto a abrir terras indígenas e reservas naturais protegidas à exploração agrícola e mineral.

"Qual é a meta? Não existe. Qual é o orçamento? Não existe... Qual é a forma de trabalhar? Não existe", critica Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, que reúne ONGs que combatem o aquecimento global.

"Não existe nenhuma mudança de conduta que nos dê um mínimo de esperança de que o governo vai mudar seu comportamento", acrescenta.

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