INTERNACIONAL

Alemães criticam Merkel por 'giro de 180 graus' na Europa

A chanceler Angela Merkel enfrenta as primeiras críticas na Alemanha pelo plano de mutualização das dívidas europeias proposto na segunda-feira com o presidente francês Emmanuel Macron e que quebra um tabu em termos de solidariedade na UE

AFP
19/05/2020 às 13:26.
Atualizado em 29/03/2022 às 23:16

A chanceler Angela Merkel enfrenta as primeiras críticas na Alemanha pelo plano de mutualização das dívidas europeias proposto na segunda-feira com o presidente francês Emmanuel Macron e que quebra um tabu em termos de solidariedade na UE.

Em um país apegado às virtudes da austeridade orçamentária, o plano de reativação franco-alemão para a Europa levanta questões.

"Estou surpreso por estarmos fazendo um giro de 180 graus, e que agora de repente a União Europeia pode se endividar", reagiu nesta terça-feira o deputado liberal Alexander Lambsdorff.

A natureza "excepcional" da crise, ressaltada no dia anterior por Merkel, não justifica, de forma alguma, que a União Europeia "jogue suas regras e princípios ao mar", segundo o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung em um editorial.

A primeira economia europeia fará a contribuição mais importante, de 135 bilhões de euros (cerca de 147 bilhões de dólares), no pacote total de 500 bilhões de euros (cerca de 550 bilhões de dólares), se finalmente for adotado por todos os Estados-membros da UE.

Merkel reconheceu na segunda-feira que a proposta, também apoiada por seu partido conservador, era "corajosa" e provavelmente atrairá críticas na Alemanha.

Merkel e Macron propõem que a Comissão Europeia financie esse apoio através de empréstimos nos mercados "em nome da UE".

O dinheiro será aplicado em despesas orçamentárias nos países europeus mais afetados pela pandemia, como Espanha e Itália. Os países beneficiários não terão que reembolsar a ajuda.

É um passo na direção dos "eurobonds" ou "coronabonds" que a Itália, apoiada pela França, reivindicava, mas que até agora eram considerados uma linha vermelha na Alemanha e nos países do norte da UE, que criticam os do sul por sua negligência orçamentária.

Ao concordar com a ideia de uma mutualização de dívidas, Merkel "reafirmou o compromisso europeu da Alemanha diante das duras críticas da Itália e da Espanha", segundo a presidência francesa.

Na semana passada, a chanceler já havia se manifestado a favor de uma maior integração da zona do euro, após uma decisão do Supremo Tribunal alemão que criticou os planos de ajuda do Banco Central Europeu (BCE).

Merkel "também tem em mente que a Alemanha assumirá a presidência da UE em julho. Ela quer deixar uma marca", antes de fechar seu quarto e último mandato no próximo ano.

Angela Merkel pode se dar ao luxo de assumir certos riscos políticos. Ela lidera as pesquisas de popularidade por seu gerenciamento da crise do coronavírus, que afetou a Alemanha de maneira menos severa do que outros europeus, como Reino Unido, França ou Itália.

A ideia de uma mutualização das dívidas na Europa avançou lentamente na Alemanha, onde economistas e partidos como os Verdes já haviam se manifestado a favor dos "coronabonds" diante dessa crise sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.

"Agora cabe a Merkel e Macron colocar todo o seu peso em cima da mesa" para impor o projeto em nível europeu, enfatiza Lisa Paus, porta-voz dos ecologistas no parlamento alemão.

A Europa não pode permitir que "essas propostas desapareçam como as de Meseberg" há dois anos, lembrou, quando a França e a Alemanha concordaram em uma maior integração da zona do euro, em particular por meio de um orçamento integrado, mas que não foi para frente por falta de aprovação de seus parceiros.

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