INTERNACIONAL

Alta de casos em Madagascar põe em xeque infusão milagrosa anti-COVID

Em Antananarivo, ouvem-se as sirenes das ambulâncias constantemente, os principais hospitais públicos estão lotados, e o Palácio dos Esportes de Mahamasina foi transformado em um hospital com capacidade para 250 leitos

AFP
30/07/2020 às 09:03.
Atualizado em 25/03/2022 às 17:54

Em Antananarivo, ouvem-se as sirenes das ambulâncias constantemente, os principais hospitais públicos estão lotados, e o Palácio dos Esportes de Mahamasina foi transformado em um hospital com capacidade para 250 leitos.

A capital de Madagascar registra um forte aumento de casos de COVID-19, apesar da ampla distribuição de uma infusão à base de plantas que, segundo as autoridades, é um remédio contra o vírus. Uma situação que eleva a tensão dentro do governo, dividido sobre a estratégia a ser adotada.

A grande ilha do oceano Índico superou, na terça-feira, a barreira simbólica dos 10.000 casos, incluindo 93 óbitos. O número de novos contágios diários varia entre 300 e 400. Há algumas semanas, chegava a 100.

As autoridades estão considerando várias explicações: "o aumento da capacidade de diagnóstico", "a forte densidade da população" em Antananarivo, ou o não consumo do chá de ervas, feito com artemísia, venerado pelo presidente Andry Rajoelina e distribuído em Madagascar e em vários países - especialmente africanos.

A infusão, chamada Covid-Organics, ou CVO, tem virtudes preventivas e curativas contra o novo coronavírus, diz o chefe de estado, que inaugurou um hospital de campanha neste fim de semana. Nenhum estudo científico comprovou sua eficácia.

Quatro meses depois do surgimento do primeiro caso de COVID-19 em Madagascar, os principais hospitais da capital não têm mais condições de atender a todos os pacientes.

"O número de casos está aumentando cada vez mais, [...] então estamos aceitando apenas os casos graves", disse à AFP o diretor do hospital de Andohotapenaka, Nasolotsiry Raveloson.

O ministro da Saúde, Ahmad Ahmad, deu o alarme na semana passada.

A pandemia "está evoluindo nas últimas semanas de maneira muito crítica em Madagascar, com grandes surtos" em várias regiões, incluindo Antananarivo, alertou em uma carta, na qual pediu ajuda da comunidade internacional.

Algumas declarações que causaram irritação no Executivo, que se declarou "consternado" com a "iniciativa pessoal" do ministro.

Uma charge do cartunista malgaxe POV, publicada no "Madagascar Express", resume a atual situação dentro do governo. Nela, o ministro da Saúde aparece pendurado em uma árvore, meio amordaçado.

"Precisamos reorientar nossa estratégia de combater a COVID-19", diz ele ao presidente, disfarçado de druida diante de uma enorme chaleira.

Ao lado dele, o porta-voz do governo grita com o ministro, que também é radiologista: "Silêncio! Você sabe alguma coisa sobre saúde?".

A famosa poção também divide a população.

"Para verificar se o CVO funciona, basta ver o número de casos", diz o médico Mirato Rabearson Mahefamanana. "Por que existem tantos?", questiona.

Paul Rabary, ex-ministro da Educação, diz que tomou a infusão, mas que, ainda assim, contraiu a COVID-19.

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