INTERNACIONAL

Angústia e desânimo em uma Buenos Aires confinada pela COVID-19

Ansiedade, angústia e depressão são alguns do impactos do confinamento em Buenos Aires, um dos mais longos do mundo

AFP
02/07/2020 às 16:04.
Atualizado em 26/03/2022 às 21:38

Ansiedade, angústia e depressão são alguns do impactos do confinamento em Buenos Aires, um dos mais longos do mundo. A quarentena ultrapassa 100 dias e entrou em uma fase mais rigorosa esta semana, devido ao aumento exponencial dos casos de coronavírus.

A pandemia não poderia ter acontecido em um momento pior para a Argentina. Após dois anos de recessão, a economia do país registrou uma queda de 26,4% em abril.

"Hoje surtei e comecei a limpar tudo freneticamente!! Me virei de uma vez e dei de cara na porta. Estou entrando em um poço cada vez mais escuro e profundo, cheio de crianças pisando em mim", escreveu Maria em uma conversa com as amigas. A professora, 42 anos, vive entre aulas virtuais e seus três filhos pequenos.

No mesmo grupo do WhatsApp, Lídia, que mora sozinha, anuncia: "Vou beber um vinho agora". "Quero pegar COVID, assim não toco mais no meu computador", diz Graciela, professora de pré-escola, que passa horas no Zoom com seus alunos pequenos, pais ansiosos e diretores exigentes.

A vida passa em compasso de espera com a quarentena obrigatória iniciada na Argentina em 20 de março e endurecida a partir de 1º de julho em Buenos Aires e arredores. A região concentra mais de 90% dos mais de 67.000 casos e 1.363 mortes e é lar de quase um terço dos 44 milhões de argentinos.

"É muito difícil separar o efeito do confinamento do da crise econômica e das incertezas sobre o trabalho no futuro", diz a psicóloga Alicia Stolkiner, professora de Saúde Pública e Saúde Mental da Faculdade de Psicologia da UBA e da Universidade de Lanús. Em muitos casos, os auxílios estatais de quase 3% do PIB são insuficientes.

Após 100 dias de confinamento parcial, o ânimo caiu acentuadamente, de acordo com um estudo do Observatório Social da Universidade Nacional de La Matanza (UNML) realizado entre 27 e 29 de junho em Buenos Aires e periferia.

Em um país famoso por ter quase 200 psicólogos para cada 100.000 habitantes, a pesquisa revelou que 43,8% dos entrevistados disseram que precisavam de atendimento psicológico devido à tristeza, desesperança, ansiedade, angústia e instabilidade emocional.

Eles também apresentam intolerância ao confinamento, sentimento de solidão e pensamentos de morte. Psicólogos realizam sessões virtuais e associações de terapeutas oferecem "cuidado e escuta" gratuitos. As ligações para a linha direta de prevenção do suicídio dobraram.

No final de março, 80,7% disseram que estavam de bom ou muito bom humor e apenas 5,2% estavam de mau ou muito mau. Agora, as taxas estão em 39,5% e 34,4%, respectivamente.

"As consultas são diversas, mas coincidem em angústia, depressão, distúrbios do sono, insônia", diz Claudia Borensztejn, médica e presidente da Associação Psicanalítica Argentina (APA).

Os mais resilientes mantêm aulas virtuais de ioga, meditação, dança e ginástica, como suporte para atravessar o confinamento. Ainda assim, 53,5% disseram apoiar a extensão do confinamento até 17 de julho, convencidos de que a medida "salva vidas", como reitera o presidente Alberto Fernández.

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