Arnaldo Bortoletto é o entrevistado do terceiro episódio

O presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), Arnaldo Bortoletto, em entrevista ao videocast Diálogos, da Gazeta de Piracicaba, defendeu veementemente o setor como uma grande matriz de produção de alimentos para o mundo. Segundo ele, o cenário internacional é altamente demandante, o que potencializa o setor e cobra um crescimento consistente da produtividade. "Devemos estar preparados para essa missão global", enfatizou.

Assista aqui: https://www.youtube.com/@gazeta_piracicaba.

Bortoletto destacou a importância do etanol para a melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras, especialmente nos grandes centros. Ao ser questionado sobre o retorno da tributação sobre os combustíveis, ele disse que a decisão do governo favorece o setor canavieiro, mas que a população não deveria entender a questão apenas a partir do cálculo financeiro, em que o etanol se torna competitivo a partir da paridade de 70% em relação ao preço do litro da gasolina, mas, sim, por questões ambientais.

"O entendimento não pode ser simplesmente econômico, que toque no bolso. Porque a cana-de-açúcar apresenta um forte diferencial em relação ao petróleo. Enquanto a gasolina gera CO2, poluente agressivo ao meio ambiente e que prejudica imensamente a qualidade do ar nas grandes cidades, o etanol é um combustível limpo, além da lovoura de cana contribui para a fixação do carbono. Esse olhar ambientalmente correto deveria ser considerado na hora de abastecer o carro e não apenas seu preço", observou.

Ele disse também que hoje a gasolina conta com 27% de etanol em sua composição, o que minimiza seu poder poluidor. Mesmo assim, não fosse o etanol, o ar das grandes metrópoles do país estaria insuportável se a frota fosse movida apenas pela gasolina e o diesel. "Está certo que a política do governo eleva o preço dos combustíveis, o que ajuda o produtor de cana. Mas de qualquer forma, estamos diante de um quadro em que o etanol leva vantagem por agregar aspectos positivos, de interesse global, que é a preservação do meio ambiente".

Coplacampo

Bortoletto disse que o evento que abre o calendário agrícola do setor, o Coplacampo, organizado pela Coplacana, demonstrou, em sua 9ª edição, a capacidade de reunir pequenos, médios e grandes produtores da região centro-sul para conhecerem as novidades que foram preparadas para melhorar o atendimento dos associados da Coplacana. 

"Temos hoje tudo o que o produtor rural precisa para o bom desempenho de sua produção, de apoio técnico a insumos, de máquinas a financiamentos. Por isso nossa expectativa é que tenhamos alcançado a meta de movimentar no evento cerca de R$ 500 milhões em negócios". O destaque, segundo ele, ficou para os drones, produzidos a partir de parcerias entre empresas chinesas e brasileiras com institutos de pesquisas brasileiros.

Os drones abrem um novo caminho para o desenvolviemento da agricultura como um todo, pelo fato de a tecnologia conseguir cumprir missões que máquinas pesadas não conseguem, especialmete em períodos de chuva. "É possível monitorar o plantio e fazer aplicações especiais em áreas específicas, assegurando a produtividade. A produção em escala dos drones permite também o barateamento do seu uso, podendo ser contratado em parceria por pequenos produtores, sem comprometer o orçamento dos mesmos. Algo impensável há pouco tempo".

Troca de experiência

Ainda sobre os pequenos produtores rurais, Bortoletto falou da participação de profissionais que atuam em diversos setores, como extração de mel, elaboração de queijos e doces, produção de leite de cabra, entre outros, que ganharam um espaço dedicado somente a eles, onde foi possível muita troca de experiência e aprendizado. A novidade do ano, também, para atrair a população urbana, foi o setor de pet, sendo o passeio no evento dentro da lógica 'petfriendly' por excelência. Por sinal, aproveitando o boom do setor, a Coplacana construiu uma loja específica de pet shop que tem agregado valor a todo o trabalho do agronegócio.

O evento atraiu cerca de oito mil pessoas, diante de uma expectativa de seis mil e quinhentas. Ou seja, foi acima do esperado. Agora, a equipe de Bortoletto trabalha para que o evento do ano que vem tenha uma infraestrutura ainda melhor, do acesso ao estacionamento, com galpões maiores, mais áreas cobertas, enfim. Um avanço natural para um setor que só cresce e de forma sustentável. "Vieram produtores de praticamente todas as cidades da região, excursões de vários estados, onde a Coplacana já se encontra implantada. De forma geral, recebemos apenas elogio e estímulo para que o projeto avance", afirmou Bortoletto. 

Santa Helena

O fechamento da Usina Santa Helena, no ano passado, é um assunto que ainda deixa Bortoletto preocupado, uma vez que a unidade era a segurança de escoamento de matéria prima de vários pequenos e médios produtores da região. Agora essa produção será direcionada a outras usinas. A dúvida de Bortoletto é se essas outras unidades estão em condições de fato de incorporar esse adicional. Além de que, quem vai pagar o custo extra para o transporte a uma distância maior, que não estava previsto.

"Porque a perspectiva é de crescimento na produtividade dos canaviais, com a melhoria do preço pago pelo mercado ao acúcar e álcool. Nesse sentido, vai sobrar pouco espaço para as usinas incorporarem fornecedores que não estavam em suas previsões. Por isso, a Raízen vai ter que nos dar essa garantia de moagem para os fornecedores da Santa Helena. Estamos conversando sobre esses detalhes", enfatizou. Questionado sobre a possibilidade de a Santa Helena ser reaberta já para o início da safra deste ano, ele disse que essa é uma decisão que compete apenas ao grupo Raízen.