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As razões que podem explicar por que a Espanha é um dos países mais atingidos pela COVID-19

Na Espanha, o novo coronavírus se espalhou rapidamente sem ser detectado, atingindo principalmente os idosos, tornando o país o terceiro com mais mortes, segundo especialistas consultados pela AFP

AFP
25/04/2020 às 10:19.
Atualizado em 31/03/2022 às 01:50

Na Espanha, o novo coronavírus se espalhou rapidamente sem ser detectado, atingindo principalmente os idosos, tornando o país o terceiro com mais mortes, segundo especialistas consultados pela AFP.

Todos eles alertam que ainda é "prematuro" fazer análises detalhadas, mas apontam para o estilo de vida sociável espanhol e a estreita relação intergeracional.

A Espanha tem a segunda pior taxa de mortalidade por habitante, atrás da Bélgica, mas a letalidade entre os infectados é de 10,4%, abaixo de países como Itália, França ou Reino Unido.

"A letalidade não é pior (...) O problema aqui é o tamanho da epidemia, o grande número de pessoas infectadas durante o pico epidêmico", diz Fernando Rodríguez, professor de saúde pública da Universidade Autônoma de Madri.

Com mais de 219.000 infectados, a Espanha só é superada pelos Estados Unidos a esse respeito, o que também depende do número de testes realizados. Um estudo matemático da Universidade Politécnica da Catalunha estima em mais de 2 milhões o número real de casos.

Antes das autoridades dispararem o alarme e decretarem o confinamento em 14 de março, "houve muita circulação do vírus", reconhece Antoni Trilla, chefe de epidemiologia do Hospital Clínic de Barcelona.

"As últimas semanas de fevereiro e a primeira de março foram fantásticas na Espanha e as pessoas estavam nas ruas, muito próximas umas das outras", diz Rodríguez.

Isso "contribuiu para o fato de que, nessa fase inicial, a transmissão da comunidade foi muito acelerada e em muito pouco tempo", acrescenta.

Um fator relevante pode ter sido o estilo de vida dos espanhóis, que passam muito tempo na rua, seja para tomar uma bebida, celebrar festas, protestar ou simplesmente caminhar.

Na Espanha, como na Itália, "as pessoas se abraçam e se tocam muito, aqui se beijam continuamente, mesmo no trabalho", aponta Ildefonso Hernández, professor de Saúde Pública da Universidade Miguel Hernández de Alicante (sudeste).

Fernando Rodríguez também destaca o tipo de moradia na Espanha, o país europeu com maior população residindo em apartamentos, segundo a agência de estatística europeia Eurostat.

"Nossas cidades são construídas verticalmente, há muita densidade e isso também pode facilitar a transmissão da epidemia".

Além disso, o vírus "atingiu rapidamente setores de muita idade", indica Ildefonso Hernández, que foi diretor de Saúde Pública do Ministério da Saúde (2008-2011).

A Espanha tem uma população envelhecida, mas a porcentagem de pessoas com mais de 65 anos é menor do que países menos castigados, como a Alemanha.

No entanto, "as pessoas idosas no norte da Europa vivem mais isoladas e há muito mais distância familiar", aponta Hernández.

Aqui, onde os avós tendem a cuidar dos netos e a participar de reuniões e festas familiares, "a família é muito mais compacta, a interação entre jovens e idosos é muito alta", acrescenta.

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