O aumento do número de casos de Covid-19 no Uruguai nos últimos dias é "razoável", avaliaram nesta quinta-feira os cientistas que assessoram o governo, assinalando que o importante é evitar uma transmissão comunitária em massa do vírus
O aumento do número de casos de Covid-19 no Uruguai nos últimos dias é "razoável", avaliaram nesta quinta-feira os cientistas que assessoram o governo, assinalando que o importante é evitar uma transmissão comunitária em massa do vírus.
Apesar de o Uruguai ter sido muito elogiado por seu controle da crise sanitária, o número de infectados teve um crescimento maior do que o habitual nos últimos dias, devido a focos localizados em instituições médicas de Montevidéu.
"Estamos em uma etapa que se caracteriza pelo surgimento de focos", disse em entrevista coletiva o bioquímico Rafael Radi, coordenador do Grupo Assessor Científico Honorário (GACH) da presidência, lembrando que o país vive um cenário de retorno gradual das atividades, aumento da mobilidade e abertura progressiva da fronteira. Por isso, esta evolução com surtos "é e será o cenário mais razoável para os próximos meses", afirmou.
A transmissão comunitária acontece quando não se pode identificar onde teve início o contágio. Em 85% dos casos uruguaios, o vetor da doença é conhecido. Cientistas advertem, no entanto, que esta situação pode mudar rapidamente se a população relaxar as medidas sanitárias.
O engenheiro Fernando Paganini enfatizou que a margem entre uma situação de relativo controle e uma epidemia disseminada é estreita, e citou a Costa Rica como exemplo. "No começo de junho, aquele país estava mais ou menos como o Uruguai, era considerado um exemplo de sucesso. Infelizmente, em julho, houve um aumento para 500 casos por dia, que ultrapassa o número de infecções que se pode acompanhar de forma microscópica", ilustrou.
O médico Henry Cohen, integrante do GACH, lembrou que o número de casos ativos atuais (149) é muito semelhante ao de dois meses atrás. "Mas como tivemos números melhores, a preocupação é compreensível."
Os cientistas destacaram o aumento do número de testes diários, com 3.100 realizados ontem, dos quais 1% deu positivo. "É um dado pontual, mas relativamente animador", indicou Rafael Radi, que, para "dar uma visão mais otimista", recorreu a comparações regionais: "A média de casos registrados nos últimos dias no Brasil é de 18 a cada 100.000 (habitantes); na Argentina, 8 a cada 100.000; no Uruguai, 0,1 a 0,4 a cada 100.000."
Sobre os surtos em centros médicos, Henry Cohen lembrou que "equipes médicas, em seu conjunto, constituem um grupo de risco em qualquer epidemia. A experiência internacional mostra que elas têm quatro vezes mais chances de adoecer do que a população em geral, mais ainda se atendem diretamente pacientes com Covid."
O Uruguai, país de 3,4 milhões de habitantes, ficou vários dias sem registrar novos casos de coronavírus, ou muito poucos, em maio e junho, mas somou 32 testes positivos na última terça-feira e 21 ontem, a maioria ligada a um foco numa instituição médica de Montevidéu, que espalhou casos por outros centros de saúde, deixando a população em alerta. O país contabiliza 1.117 casos e 34 mortos pela Covid-19.
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