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Carlos Mesa, um reincidente na política boliviana

Quinze anos depois, o ex-presidente Carlos Mesa está mais uma vez às portas do poder na Bolívia como o único candidato com chances de vencer nas urnas o esquerdista Luis Arce, reconhecido como o gestor do "milagre econômico" durante o governo de Evo Morales (2006-2019)

AFP
15/10/2020 às 14:05.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:35

Quinze anos depois, o ex-presidente Carlos Mesa está mais uma vez às portas do poder na Bolívia como o único candidato com chances de vencer nas urnas o esquerdista Luis Arce, reconhecido como o gestor do "milagre econômico" durante o governo de Evo Morales (2006-2019).

Candidato centrista do partido Comunidade Cidadã, o historiador e jornalista de 67 anos afirma que entrou na política com "a ideia de estar no centro das coisas e trabalhar para movê-las e transformá-las".

Carlos Diego de Mesa Gisbert, nascido em 12 de agosto de 1953 em La Paz, é descendente de uma família de Alcalá la Real (Espanha) e era um "forasteiro" da política até duas décadas atrás, quando se viu imerso no olho do furacão.

Eleito vice-presidente em 2002, ele apresentou sua renúncia um ano depois, enquanto o presidente liberal Gonzalo Sánchez de Lozada suprimia uma rebelião popular que deixou mais de 60 mortos.

"Os mortos vão te enterrar", censurou na época o governante, como lembra em livro "Presidência sitiada", em que reúne episódios da crise.

Criticado por ser supostamente covarde, Mesa sucedeu posteriormente Sánchez de Lozada como presidente. Ele renunciou duas vezes - a primeira foi rejeitada pelo Congresso - e finalmente saiu em 2005.

Seu amigo Alfonso Gumucio, com quem compartilha a paixão pelo cinema, afirma que Mesa é "um homem que reflete, talvez também um homem que sonha".

Em artigo escrito em 2008 para o lançamento de "Presidência sitiada", Gumucio revelou características do ex-presidente: "Ele é um homem incrivelmente metódico e sistemático, não só no trabalho, mas no dia a dia, capaz de registrar todos os objetivos de Bolívar ou os detalhes de como pilotar um DC-3".

Quem o conheceu na juventude lembra-se dele com barba e cabelos compridos competindo no programa de televisão "Premio del sabre". Anos depois, ganhou o prêmio Rei da Espanha, em 1994, e o Prêmio Nacional de Jornalismo em 2012.

Mesa foi presidente da Bolívia sem um partido para apoiá-lo, situação que complicou sua gestão e o levou a renunciar.

Sobrecarregado por uma pressão social incontrolável e instabilidade política, ele deixou a cadeira presidencial para o juiz Eduardo Rodríguez Veltzé, que convocou as eleições em 2005, vencidas por Evo Morales.

Sem a lição aprendida, Mesa concorreu novamente em 2019 sem partido próprio, mas com a sigla emprestada da Frente Revolucionária de Esquerda (FRI), um partido minoritário do falecido líder maoísta Oscar Zamora, que acabou aliado à direita nos anos 1990.

Em torno do FRI, ele formou a Comunidade Cidadã, um grupo de pequenos partidos, plataformas de cidadãos e líderes regionais.

Nas eleições de 2019, Mesa terminou em segundo lugar atrás de Morales, de acordo com o escrutínio oficial. Mas as eleições foram canceladas após denúncias de fraude e protestos que levaram à renúncia do presidente.

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