EMPRESA VERDE

Casa da Floresta de olho no consumo consciente

Uma das atividades da entidade é monitorar as vegetações nativas

Marcelo Rocha
igpaulista@rac.com.br
21/03/2016 às 10:52.
Atualizado em 28/04/2022 às 05:36
Especialistas em fauna e em flora trabalham no 'QG' da Casa da Floresta, instalada no bairro Monte Alegre (Christiano Diehl Neto)

Especialistas em fauna e em flora trabalham no 'QG' da Casa da Floresta, instalada no bairro Monte Alegre (Christiano Diehl Neto)

Hoje em dia, com o advento do biodiesel, o setor de cana-de-açúcar, que historicamente foi averso a questões ambientais, está mais preocupado com a certificação (selo verde). Porque os mercados externos não toleram mais produtos sem certificação. Assim, muitas empresas, agora, estão tendo que correr atrás do prejuízo, analisa Mônica Cabello de Brito, 47 anos de idade, engenheira agrônoma e diretora da Casa da Floresta, empresa baseada em Piracicaba que desenvolve estudos de biodiversidade e sustentabilidade. O projetos de certificação, os chamados selos verdes, desembarcaram “muito forte no Brasil na década de 90”, comenta a agrônoma no escritório da empresa, no aprazível bairro Monte Alegre. Ela prossegue dizendo que, para uma boa parcela das empresas, o selo verde já é uma questão de sobrevivência neste século 21. “É uma pressão da sociedade. Isso é bacana, porque exige-se um consumo consciente e criam-se esses mecanismos de fiscalização”, declara. Mas o setor canavieiro durante a última década relativizou estas exigências globais. “Agora, a área de cana tem que provar que não está prejudicando a conservação da biodiversidade”, afirma Mônica. “Se não fizerem isso, perdem mercado para outros países que já têm os selos verdes”. Desde 1999, a agrônoma dirige, ao lado do sócio, Klaus Baretto, a Casa da Floresta. Antes disso, ela era funcionária do Departamento de Ciências Florestais, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). A Casa da Floresta, ela frisa, é uma empresa e não uma Organização Não Governamental (ONG), como muitos pensam. E nasceu da seguinte inquietação: “Todo mundo trabalhava a questão ambiental dissociada da questão social. Mas a gente tinha o entendimento de que não é possível trabalhar isso de forma separada. Hoje, as pessoas já usam muito o termo socioambiental”, diz. Uma das atividades da Casa da Floresta é monitorar florestas nativas, tanto a fauna quanto a parte de vegetação, para seus clientes, especialmente companhias do setor florestal. “Os mercados europeu e dos Estados Unidos estão cada vez mais exigentes quanto à certificação das empresas, o selo verde. E as empresas do setor florestal têm, em sua maioria, um selo que é o FSC (Florest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal)”, diz Mônica, referindo-se ao conhecido sistema de certificação florestal internacional. “Mas para as empresas terem o FSC há exigências como, por exemplo, a conservação de matas nativas em propriedades onde há áreas de reflorestamento. É aí que nós entramos, monitoramos essas áreas de florestas para entender se os animais e a vegetação estão sendo preservados”, explica a diretora da Casa da Floresta. Um segunda frente de trabalho da empresa é a participação no projeto Sisfron (desenvolvido pelo Exército), o sistema de vigilância e monitoramento dos 16,8 mil quilômetros de fronteiras do País, que tem como prioridade a Amazônia. “Neste projeto, a gente trabalha para o grupo Embraer. A Casa da Floresta é responsável por toda a parte de licenciamento ambiental do projeto Sisfron, que inclui a instalação de grandes antenas e equipamentos para monitorar as fronteiras do país. São áreas muito remotas, para chegar lá vamos de barco, às vezes, de helicóptero”, conta Mônica. Outra promissora área de atuação, diz a agrônoma, na qual a Casa da Floresta tem sido pioneira, é a restauração florestal para fins comerciais. “Numa propriedade, que tem reservas legais e áreas de preservação permanentes (APPs) averbadas, é possível fazer um plantio de árvores nativas e licenciá-lo para a realização do corte e futura comercialização”, explica Mônica. “Estamos fazendo uma pesquisa praticamente inédita no Estado de São Paulo nessa área, fomos os primeiros a registrar um projeto desse na Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo”, afirma. Ao mesmo tempo, salienta a agrônoma, todos os projetos de monitoramento desenvolvidos pela empresa são destilados em pesquisas valiosas. “A gente gera dados importantes de fauna e vegetação em todo o Brasil. Publicamos muitos artigos científicos e já houve até casos de encontrarmos espécies extintas”, relata Mônica. Time florestal A equipe da Casa da Floresta é composta por 36 pessoas, entre engenheiros florestais, agrônomos, biólogos, ecólogos, geógrafos, sociólogos e outros profissionais. “Há especialistas em aves, mamíferos, répteis, anfíbios, ictiofauna, o pessoal de vegetação e o setor de geoprocessamento, já que trabalhamos com modelagem matemática para análise da paisagem”, diz Mônica, em referência a estudos/projeções que são subsídios para a tomada de decisões envolvendo negócios e impacto ambiental. Associado à empresa, ainda existe o Instituto Casa da Floresta, “que aí sim é uma ONG, criada muito recentemente”, fala a diretora. “O instituto entra em ação em demandas que não são passíveis de fins lucrativos”, afirma Mônica. Um desses projetos é a restauração de uma floresta nativa num quilombo na cidade de Capivari. Com orgulho, a diretora da Casa da Floresta também cita um trabalho de restauração - o plantio de 22 hectares de floresta - da área onde atualmente está instalado o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef). “A gente monitora há 10 anos essa área. É incrível como uma floresta se regenera e a fauna volta. Nessa área, a gente já encontrou animais raros, como um gato maracajá, que é uma espécie de oncinha, mas rara em floresta”, observa.

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