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Chile completa 30 anos de democracia sem festa e com amargura

Há 30 anos, o Chile fez história quando um dos ditadores mais ferozes da América Latina cedeu o comando, após 17 anos no poder, ao presidente Patricio Aylwin e deu lugar à reconstrução de um modelo de democracia que hoje é questionado

AFP
11/03/2020 às 16:28.
Atualizado em 07/04/2022 às 08:08

Há 30 anos, o Chile fez história quando um dos ditadores mais ferozes da América Latina cedeu o comando, após 17 anos no poder, ao presidente Patricio Aylwin e deu lugar à reconstrução de um modelo de democracia que hoje é questionado.

"Não são 30 pesos, são 30 anos", é uma das frases mais ouvidas após a convulsão social que toma conta do Chile, em referência ao descontentamento com o aumento da tarifa do metrô que escondeu uma fúria social alimentada pela indiferença nas questões sociais durante as três décadas de governos democráticos cristãos, socialistas e de direita que se alternaram no poder.

Em outubro tudo mudou. A indignação em relação às desigualdades criadas por um modelo de economia aberta comprometeu a estabilidade de um país que se acreditava a um passo do primeiro mundo e agora tenta sair de sua pior crise com um referendo em abril que decidirá se deve ou não aprovar uma nova Constituição que substitui a aprovada na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) por outra que reconhece maiores direitos econômicos e sociais para seus quase 18 milhões de habitantes.

Foi graças a essa Constituição que se modificou o que foi a educação pública até a década de 1970, assim como a saúde, e a previdência, que foi privatizada.

Antes da ditadura, o Chile tinha uma sólida educação pública. Cada vez menos alunos frequentam escolas públicas. A maioria da classe média prefere as escolas mistas ou subsidiadas e somente a partir de 2016 as universidades passaram a ser gratuitas. Antes, os alunos tinham que recorrer a créditos caros.

Em 2010, Piñera se tornou o primeiro presidente formado em uma escola particular. Todos os seus antecessores, lembraram-se orgulhosamente de terem sido educados do ensino fundamental à universidade em um sistema público gratuito.

"Isso mudou com a ditadura. Um processo de privatização começou com a ditadura e se perpetuou nos governos democráticos", disse à AFP Gonzalo Muñoz, professor de educação da Universidade Diego Portales.

Nas ruas, desde 2006, é reivindicada uma "educação pública, gratuita e de qualidade".

O sistema de saúde chileno tem uma arquitetura bem organizada e índices acima da média latino-americana.

A mortalidade materna foi significativamente reduzida e a cobertura universal do parto foi alcançada. Centenas de doenças também têm garantia de atendimento.

No entanto, grande parte da classe média paga por planos privados (18% da população), que são muito caros.

Com um salário mínimo de cerca de US$ 400, o Chile é o terceiro país da OCDE com o maior gasto por pessoa em saúde, especialmente no custo de medicamentos, até 60% mais caro que na vizinha Argentina.

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