Pesquisa

Ciências de dados pode identificar pessoas com risco de desenvolver Alzheimer

Pesquisa irá ajudar na construção de um painel com mascadores biológicos para diagnóstico precoce

Da Redação
26/08/2024 às 16:11.
Atualizado em 26/08/2024 às 16:12
Para Tamires Alves Sarno, a pesquisa pode auxiliar na montagem de um painel com marcadores biológicos para o diagnóstico precoce da doença (Acervo pessoal/Divulgação)

Para Tamires Alves Sarno, a pesquisa pode auxiliar na montagem de um painel com marcadores biológicos para o diagnóstico precoce da doença (Acervo pessoal/Divulgação)

Trabalho realizado pela biomédica e pesquisadora Tamires Alves Sarno pode ajudar no processo de diagnóstico precoce do Alzheimer. O estudo, desenvolvido para a conclusão do curso de MBA em Data Science e Analytics da USP e apresentado na Association International Conference, o maior congresso sobre o tema no mundo, propõe avaliar o perfil de metabólitos lipídicos, especificamente de fosfolipídios, no sangue de pessoas com doença de Alzheimer, pessoas com Comprometimento Cognitivo Leve e pessoas com síndrome de Down. O objetivo da pesquisa é ajudar na construção de marcadores biológicos para identificação e diagnóstico.

Diferentemente de comorbidades como o diabetes, em que há um marcador para diagnóstico, no caso, a glicose, o Alzheimer é uma doença multifatorial, cujos riscos são influenciados por diversos fatores, como genética, idade, obesidade, tabagismo e depressão. Assim, pela complexidade de agentes envolvidos, é consenso entre os pesquisadores a necessidade da construção de um painel com esses marcadores biológicos apropriados.

Tamires faz parte do grupo de pesquisa do Laboratório de Neurociências (LIM-27) da USP, que investiga há duas décadas a relação entre desordens no metabolismo dos lipídios e o desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas. De acordo com a cientista: “Ao longo dos anos, temos demonstrado em nossos estudos que, de fato, parece existir uma associação significativa entre pessoas que apresentam prejuízos no metabolismo lipídico e o desenvolvimento de doenças como esquizofrenia e doença de Alzheimer. Por exemplo, é amplamente descrito na literatura que colesterol aumentado e não tratado é um fator de risco altíssimo para a doença de Alzheimer. No nosso caso, nós investigamos porções menores desses lipídios, os chamados metabólitos, que basicamente fazem parte da via final de lipídios maiores e mais complexos, mas que, no entanto, têm a capacidade de interferir diretamente na desregulação das células, causando prejuízos ainda maiores ao organismo”, explica.

O Alzheimer é a demência mais comum entre a população idosa. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 55 milhões de pessoas no mundo convivendo com a doença. No Brasil, mais de 1,2 milhão de pessoas são afetadas, sendo que 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Desde a sua descoberta, há mais de cem anos pelo médico neuropsiquiatra Alois Alzheimer, muitas pesquisas foram desenvolvidas. Mesmo com os marcos patológicos da doença muito bem consolidados, como a produção de uma substância neurotóxica no cérebro, a desregulação de uma proteína contida dentro dos neurônios e, por fim, a morte dos neurônios como consequência, ainda assim, esses marcos não explicam o porquê e como uma pessoa desenvolve a doença de Alzheimer.

O uso da Ciência de Dados

A pesquisa foi realizada por meio da análise de sangue. O primeiro passo foi separar as moléculas utilizando a técnica de cromatografia líquida, e depois identificá-las com outra técnica chamada espectrometria de massas. Após esse processo, foi realizada a análise dos fosfolipídios para verificar os níveis dessas moléculas no sangue para entender como distúrbios dos metabólitos lipídicos podem influenciar no desenvolvimento da doença de Alzheimer.

A identificação e o mapeamento da pesquisa contaram com a ajuda da ciência de dados: “Com os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de MBA em Data Science e Analytics, pude aprimorar minhas habilidades estatísticas e de análise de dados. Compreender o meu dataset permitiu-me extrair insights do trabalho, mas, principalmente, deu-me a oportunidade de entender quais seriam os melhores métodos de análise dos resultados para que a pergunta do meu estudo fosse respondida de forma mais precisa. Eu aprendi que existem infinitas possibilidades de análise; você só precisa saber qual é a mais adequada para a sua pergunta, e o MBA em Data Science e Analytics me proporcionou esse aprendizado!”

“A grande importância desse trabalho é tentar elucidar o que pode contribuir para o desencadeamento da doença no organismo de um indivíduo, ou seja, qual via no organismo está desregulada e pode ocasionar a origem da doença. Com o aumento da expectativa de vida da população já sendo uma realidade, e considerando que doenças relacionadas ao envelhecimento, como o Alzheimer, irão aumentar exponencialmente, torna-se cada vez mais necessário reunir esforços para entender a origem dessa doença. Assim, será possível desenvolver medicamentos que possam diminuir a probabilidade de uma pessoa desenvolver Alzheimer ou, até mesmo, a possibilidade de cura, visto que, até o momento, a doença de Alzheimer não tem cura e leva à incapacidade cognitiva e funcional do indivíduo acometido. Além disso, gera uma sobrecarga para seu cuidador, que normalmente é um cuidador familiar e que, na maioria dos casos, precisa abdicar de suas demandas laborais para assumir os cuidados integrais da pessoa com Alzheimer. E não somente isso, mas também é uma doença que gera altos custos para as políticas públicas de saúde”, explica a pesquisadora.

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