INTERNACIONAL

Coronavírus e liberdades, o dilema dos aplicativos de rastreamento

À medida que mais governos se voltam para os aplicativos de rastreamento na luta contra a COVID-19, surge um dilema entre a necessidade de proteger a saúde pública e o direito de seus usuários à privacidade

AFP
27/05/2020 às 10:16.
Atualizado em 27/03/2022 às 22:23

À medida que mais governos se voltam para os aplicativos de rastreamento na luta contra a COVID-19, surge um dilema entre a necessidade de proteger a saúde pública e o direito de seus usuários à privacidade.

Vários países lançaram aplicativos para telefones celulares com o objetivo de rastrear os movimentos das pessoas infectadas pelo vírus e alertar aqueles que estiveram em contato com elas, permitindo assim que as autoridades monitorem a propagação da pandemia.

Muitos temem, porém, que as informações pessoais coletadas por governos, ou empresas privadas, em nome do controle da pandemia possam ser usadas de forma abusiva em Estados autoritários.

"Se não tomarmos cuidado, a pandemia pode ser um marco importante na história da vigilância", escreveu o historiador israelense Yuval Noah Harari no jornal "Financial Times".

"Até agora, quando seu dedo tocava a tela do smartphone e clicava em um link, o governo queria saber exatamente em que seu dedo estava clicando. Mas, com o coronavírus, o foco do interesse muda. Agora, o governo quer saber a temperatura do seu dedo e pressão arterial sob a pele", completa.

Embora o progresso da tecnologia possa ser uma boa notícia para as autoridades de saúde pública, a "desvantagem é, obviamente, que isso daria legitimidade a um sistema de vigilância aterrador", disse Harari.

Muitos países já introduziram aplicativos para smartphones com a intenção de alertar as pessoas, caso tenham estado em contato próximo com alguém portador do vírus.

Em alguns países, seu uso é voluntário, mas em outros, não.

Os países asiáticos, os primeiros afetados pela pandemia que já causou mais de 350.000 mortos, também foram os primeiros a adotar esses aplicativos, muitas vezes de forma obrigatória.

A China, onde o surto da doença começou, lançou vários aplicativos que usam geolocalização através das redes de telefonia celular, dados compilados a partir de trens e aviões, ou postos de controle na estrada.

Seu uso é sistemático e obrigatório. E as autoridades atribuem a eles um papel fundamental para permitir a suspensão do confinamento e impedir a circulação do vírus.

A Coreia do Sul emitiu alertas em massa por telefone celular, anunciando os locais visitados por pessoas infectadas, e ordenou a instalação de um aplicativo de rastreamento no telefone de toda pessoa colocada em isolamento.

Na Tailândia, um aplicativo faz as pessoas escanearem um código de barras com seus telefones ao entrarem, ou saírem, de uma loja, ou restaurante. As autoridades devem alertar todas as pessoas que visitaram o local, se alguém que tenha passado por lá apresentar resultado positivo e enviá-los para um teste gratuito de coronavírus.

Os tailandeses também são convidados a usar o aplicativo para denunciar aqueles que não cumprem as regras sanitárias, como o não uso da máscara protetora em público.

"A pandemia ofereceu uma justificativa conveniente para os governos asiáticos que buscam melhorar, ou manter, suas capacidades autoritárias por um longo período", disse à AFP Paul Chambers, cientista político da Universidade Naresuan, na Tailândia.

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