INTERNACIONAL

Coronavírus testa saúde mental de pessoal da saúde em Nova York

"Tenho extrema ansiedade", diz Debbie Sánchez, enfermeira que cuida de pacientes com coronavírus em um hospital do Bronx, um dos distritos de Nova York mais afetados pela pandemia que matou mais de 14

AFP
22/04/2020 às 10:30.
Atualizado em 31/03/2022 às 02:44

"Tenho extrema ansiedade", diz Debbie Sánchez, enfermeira que cuida de pacientes com coronavírus em um hospital do Bronx, um dos distritos de Nova York mais afetados pela pandemia que matou mais de 14.400 pessoas nesta cidade em pouco mais de um mês.

"Tudo mudou na minha vida, isso é estressante", explica à AFP essa enfermeira de 57 anos, que agora trabalha 12 horas por dia e fins de semana no epicentro da crise nos Estados Unidos, tentando manter vivos os pacientes internados em terapia intensiva no Hospital Montefiore.

Ela não vê a neta, ou a mãe, há mais de um mês por medo de infectá-las. Também está preocupada em errar, pois até antes da crise trabalhava na sala de emergência e não possui treinamento em terapia intensiva. "Eu tenho problemas para dormir", confessa.

Parte das bilhões de pessoas isoladas ao redor do mundo sofre de ansiedade e depressão. Mas para os profissionais da saúde na linha de frente da batalha contra a COVID-19, que enfrentam a doença e a morte todos os dias e correm alto risco de contágio, a realidade é incrivelmente dura.

"Estes são os momentos que testam nossa resiliência", afirma Jonathan Ripp, médico que administra o programa de bem-estar interno da Rede Hospitalar Mt. Sinai em Nova York e que deixou de fazer visitas domiciliares a idosos para tratar pacientes com COVID-19 na sala de emergência.

Ripp é coautor de um estudo que busca entender as fontes de ansiedade entre o pessoal médico durante a pandemia. O trabalho foi publicado este mês no Jornal da Associação Médica Americana (JAMA).

"Enquanto lidam com as mesmas mudanças na sociedade e com fatores de estresse emocionais em todo mundo, os profissionais da saúde correm um risco maior de exposição, cargas de trabalho extremas, dilemas morais" e, às vezes, um ambiente de trabalho desconhecido, aponta o estudo das escolas de medicina de Mt. Sinai e da Universidade de Stanford.

"Teremos equipamento de proteção suficiente? Como vou trabalhar? Quem cuidará dos meus filhos? Como será trabalhar em outra unidade que eu não conheço? O que acontecerá se eu estiver com pacientes gravemente enfermos que estão morrendo?", são algumas das preocupações, de acordo com Ripp.

O Mt. Sinai tenta responder a todas as perguntas dos profissionais da saúde, fornece informações em um site, criou uma linha direta de saúde mental 24 horas, possui grupos de apoio virtual e oferece aulas de meditação, ioga e tai chi.

Profissionais de saúde mental também entram em contato proativamente com a equipe na frente de batalha para perguntar como se sentem.

O pior dia para Heather Isola, uma assistente médica de 36 anos que chefia mais de 900 colegas nos oito grandes hospitais da rede Mt Sinai, foi quando um deles foi diagnosticado com COVID-19 e hospitalizado em estado grave.

"Eu estava exausta, e era o pico da doença, o pico [da capacidade] no hospital; nesse dia eu desmoronei. Eu tive que pedir ajuda à minha família e aos meus amigos", lembra.

"A mesma coisa se repete todos os dias, e isso é desgastante (...) Como isso nos afetará? Ansiedades, estresse pós-traumático. A experiência da morte, de morrer. A maioria dos funcionários nunca tinha visto tanta morte", diz Isola.

Pelo menos 26 funcionários de hospitais públicos de Nova York morreram de COVID-19, conforme dados oficiais divulgados na sexta-feira passada.

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