INTERNACIONAL

COVID-19: vigília pela repressão na Praça da Paz Celestial deve ser cancelada

O Executivo de Hong Kong estendeu as restrições de aglomerações para conter a epidemia de coronavírus até 4 de junho, o que significa que, pela primeira vez em 30 anos, as pessoas do território não poderão recordar a repressão ao protesto na Praça da Paz Celestial, em 1989, em Pequim

AFP
19/05/2020 às 12:15.
Atualizado em 29/03/2022 às 23:17

O Executivo de Hong Kong estendeu as restrições de aglomerações para conter a epidemia de coronavírus até 4 de junho, o que significa que, pela primeira vez em 30 anos, as pessoas do território não poderão recordar a repressão ao protesto na Praça da Paz Celestial, em 1989, em Pequim.

Todos os anos, uma vigília reúne enormes multidões na ex-colônia britânica, em memória da sangrenta intervenção do Exército chinês em 4 de junho de 1989, nesta praça no coração de Pequim.

É o único lugar na China onde o evento é recordado, um indicativo das liberdades únicas de que Hong Kong desfruta sob o princípio de "um país, dois sistemas" que rege sua retrocessão em 1997.

No ano passado, a vigília do 30º aniversário atraiu multidões, em um contexto político tenso na cidade. À época, o Executivo pró-Pequim tentava impor um projeto de lei controverso que permitiria extradições para a China continental.

E uma semana depois, uma grande crise política começaria, com sete meses de manifestações e ações quase diárias na região semiautônoma.

A pandemia de coronavírus poderá quebrar essa tradição, tendo as autoridades anunciado que estenderam as restrições que proíbem reuniões em grupos de mais de oito pessoas.

"Sempre estendemos as medidas de 14 em 14 dias. Nossa principal preocupação é a saúde pública", disse a ministra da Saúde de Hong Kong, Sophia Chan.

Os organizadores desta vigília agora esperam que as autoridades lhes deem autorização para realizar esse encontro anual, geralmente no Victoria Park, no coração da ilha de Hong Kong.

"Acreditamos que nossas chances de obter uma autorização são muito pequenas", disse à AFP o presidente da Aliança de Hong Kong para o Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos na China, Lee Cheuk-yan.

"O cancelamento da vigília seria muito simbólico, pois acontece há três décadas", acrescentou, enquanto espera que os moradores acendam velas em seus bairros.

De meados de abril ao início de junho de 1989, milhões de estudantes, trabalhadores e intelectuais, mobilizaram-se para exigir mudanças democráticas na China e denunciar a corrupção e a inflação.

Soldados e veículos blindados recuperaram o controle de Pequim, atirando contra manifestantes e civis comuns presentes ao longo das avenidas e ao redor da Praça da Paz Celestial.

Trinta anos depois, essa repressão, que deixou centenas - se não mais de mil - mortos, permanece um tabu na China continental.

Hong Kong nunca deixou de recordar o evento, mesmo após seu retorno à China.

Nos últimos anos, as vigílias se tornaram, em Hong Kong, uma oportunidade para os ativistas pró-democracia denunciarem a crescente interferência da China nos assuntos locais. Segundo eles, trata-se da uma violação do princípio "Um país, dois sistemas".

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