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Direita espanhola mergulha em escândalo de espionagem interna

A oposição conservadora espanhola está mergulhada em um escândalo digno de um romance policial, que pode manchar a imagem do ex-presidente Mariano Rajoy, depois que um informante da polícia foi pago com dinheiro público para espionar um líder do partido em posse de segredos incômodos

AFP
21/09/2020 às 17:31.
Atualizado em 25/03/2022 às 00:18

A oposição conservadora espanhola está mergulhada em um escândalo digno de um romance policial, que pode manchar a imagem do ex-presidente Mariano Rajoy, depois que um informante da polícia foi pago com dinheiro público para espionar um líder do partido em posse de segredos incômodos.

O caso ficou conhecido como "Kitchen", nome da operação policial ilegal que a Justiça investiga e que foi assim batizada pelo apelido do informante: "Cozinheiro".

O chamado "Cozinheiro" era o motorista de Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do Partido Popular (PP). Ele foi recrutado para "obter (...) informações específicas sobre o lugar onde Luis Bárcenas e sua esposa escondiam documentos comprometedores para o referido partido político e seus dirigentes", informa a Promotoria em documento recentemente divulgado.

Bárcenas era então o protagonista do "complô Gürtel", um escândalo de financiamento ilegal do PP em troca de contratos públicos. O caso custou ao partido uma sentença judicial em maio de 2018 e imediatamente a moção de censura socialista que destronou Mariano Rajoy.

Em troca de seus serviços, o motorista de Bárcenas cobrava 2.000 euros por mês de fundos reservados do Estado e até recebeu a promessa de ingressar na polícia.

A investigação sobre a operação "Kitchen" é uma das inúmeras peças abertas pela Justiça, graças ao material apreendido após a prisão, em novembro de 2017, do delegado José Manuel Villarejo, famoso na Espanha por ter gravado juízes, políticos e empresários durante anos, sem seu conhecimento.

A Justiça está especialmente interessada nos papéis desempenhados pelo então ministro do Interior de Rajoy, Jorge Fernández Díaz - contra o qual a Promotoria afirma ter "inúmeras e conclusivas" provas - e a ex-ministra da Defesa María Dolores de Cospedal, "afetada por documentação supostamente comprometedora".

O caso pode chegar ao próprio Rajoy, já que uma das conversas incluídas na investigação entre o delegado Villarejo e o informante sugere que Bárcenas também tinha documentos comprometedores para o então chefe de governo.

Os magistrados contam com a colaboração de um "arrependido" Francisco Martínez Vázquez, número dois do ministério do Interior na época dos fatos.

Incriminado, ele disse ao jornal "El País" no domingo que deseja "contar ao juiz tudo o que sabe".

Segundo a Promotoria, ele autenticou as mensagens trocadas com Jorge Fernández Díaz, demonstrando que este último tinha conhecimento da operação.

"Meu maior erro no ministério foi ser leal a pessoas miseráveis como Jorge [Fernández Díaz], ou Rajoy, ou Cospedal", disse ele em outra mensagem incluída na investigação.

O caso chega em um momento ruim para o PP, derrotado pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez nas duas últimas eleições legislativas de 2019, e prejudicado pela ascensão da extrema direita do Vox.

O PSOE, no poder graças à bem-sucedida moção de censura contra Rajoy, e seu aliado de governo, a esquerda radical do Podemos, solicitaram a criação de uma comissão parlamentar de inquérito sobre o caso "Kitchen".

"Desvia as atenções, em um momento em que o PP queria recuperar a unidade da direita e concentrar suas críticas na gestão da pandemia e na economia nos duros meses que se aproximam", afirma Antonio Barroso, analista da consultoria Teneo.

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