INTERNACIONAL

Do luto à angústia e ao desejo de viver, as marcas da pandemia no México

A dor da partida repentina, o retorno à vida quando esteve à beira da morte, a coragem de salvar os outros, a preocupação diante de um futuro incerto

AFP
07/08/2020 às 11:03.
Atualizado em 25/03/2022 às 17:13

A dor da partida repentina, o retorno à vida quando esteve à beira da morte, a coragem de salvar os outros, a preocupação diante de um futuro incerto. A pandemia deixa marcas profundas no México.

Aqui estão quatro testemunhos da crise, quando o país - de 128,8 milhões de habitantes - ultrapassou as 50.000 mortes, tornando-o o terceiro em número de óbitos, depois dos Estados Unidos e do Brasil.

José Pérez, um padeiro de 40 anos, passou da descrença ao luto. "Achávamos que não existia, ou que estavam exagerando, até adoecermos, e minhas duas irmãs morrerem", desabafou.

Ele vive em Iztapalapa, o distrito da Cidade do México mais atingido pela epidemia. No mesmo terreno, estão as casas de cinco irmãos.

Em maio, todo mundo ficou doente. Adriana, de 43 anos, e Guadalupe, de 48, morreram.

"Foi muito difícil. Não sei o que aconteceu com elas, não sei por que não reagiram. Foram embora muito rápido!", lamenta Pérez, que precisa enfrentar a angústia de ver outros adoecerem.

"Duas das minhas filhas tiveram sintomas leves e minha mãe teve sintomas mais fortes, mas ela aguentou e tem 75 anos", completou.

Após a morte de Guadalupe em um hospital público da região, eles decidiram enfrentar a doença em casa.

"Esse hospital é uma porcaria, mesmo que você não tenha o vírus, basta entrar que você morre", criticou.

Mario Landetta, ginecologista de 60 anos, passou três semanas internado com COVID-19. Quando ele recuperou a consciência, acreditou que havia sido sequestrado e depois se viu de bruços e entubado. Delirou por 48 horas.

"Comecei a ter sentimentos paranoicos. Pensei que tivesse sido sequestrado, que estava internado há sete meses. Senti o tubo na traqueia, queria removê-lo", lembra ele.

Isolado em casa uma semana depois de deixar o hospital, fala decidido, mas se move laboriosamente e ainda precisa de oxigênio.

"Eu estive muito perto de morrer, mas estou aqui", diz ele.

Não tem medo de voltar a trabalhar na clínica, apesar do risco de adoecer novamente no momento em que as infecções totalizam 462.690 em todo país.

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