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Drama do coronavírus abafa som das motosserras na Amazônia

O coronavírus se tornou uma preocupação quase exclusiva da humanidade, mas enquanto isso o desmatamento na Amazônia brasileira se intensificou, aumentando os temores de que se repitam - ou inclusive se superem com folga - os índices recorde de devastação registrados no ano passado

AFP
13/05/2020 às 07:16.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:00

O coronavírus se tornou uma preocupação quase exclusiva da humanidade, mas enquanto isso o desmatamento na Amazônia brasileira se intensificou, aumentando os temores de que se repitam - ou inclusive se superem com folga - os índices recorde de devastação registrados no ano passado.

Nos primeiros quatro meses de 2020 foram desmatados 1.202 km2 de floresta amazônica - área correspondente a duas vezes a cidade de Santiago do Chile -, segundo dados de satélite divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Isso representa um aumento de 55% em comparação com o mesmo período do ano passado e a maior cifra para os primeiros quatro meses de um ano desde o início da série histórica, em agosto de 2015.

Os números trazem novos questionamentos sobre como o Brasil está protegendo a Amazônia legal durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro, um cético das mudanças climáticas que defende a abertura de terras protegidas para a mineração e a pecuária.

"Infelizmente, o que podemos esperar para este ano são mais recordes de queimadas e desmatamento", lamentou, em um comunicado, Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace.

Em 2019, no primeiro ano de Bolsonaro no poder, o desmatamento na Amazônia teve um aumento de 85%, devastando 10.123 km2 de floresta.

Esta perda causou alarme mundial sobre o futuro da maior floresta tropical do mundo, considerada vital para o equilíbrio do clima no planeta.

A destruição foi impulsionada por incêndios florestais que alcançaram novos recordes e se espalharam mata adentro entre maio e outubro, assim como pelo desmatamento ilegal, a mineração e a pecuária em terras protegidas.

A tendência para 2020 se anuncia preocupante, visto que as atividades de desmatamento costumam se intensificar a partir do fim de maio.

"O início do ano não é temporada de desmatamento porque é temporada de chuvas e está chovendo muito", disse Erika Berenguer, especialista em temas ecológicos das universidades de Oxford e Lancaster.

"Quando vemos que o desmatamento aumenta no começo do ano, é um indicativo de que quando a seca começar, no fim de maio, veremos um aumento também", disse.

Bolsonaro autorizou na quinta-feira as Forças Armadas a combaterem os incêndios florestais e o desmatamento durante um mês a partir de 11 de maio.

No ano passado, o presidente também enviou militares para a mesma missão, após ser alvo de críticas dentro e fora do Brasil por minimizar a crise ambiental.

Para ambientalistas, seria mais eficaz que o governo desse mais apoio aos programas de proteção já existentes.

Desde o início da gestão Bolsonaro, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) enfrentou cortes orçamentários e substituição de quatros técnicos.

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