INTERNACIONAL

Dramática tomada de terras na Argentina no pior momento da pandemia

Ao ar livre, ou sob barracas improvisadas: cerca de 2.500 famílias desafiaram a Justiça - e a covid-19 - há mais de um mês, quando ocuparam terras no sul de Buenos Aires, a província mais populosa do país, onde a pandemia ataca com mais virulência

AFP
29/08/2020 às 15:15.
Atualizado em 25/03/2022 às 11:41

Ao ar livre, ou sob barracas improvisadas: cerca de 2.500 famílias desafiaram a Justiça - e a covid-19 - há mais de um mês, quando ocuparam terras no sul de Buenos Aires, a província mais populosa do país, onde a pandemia ataca com mais virulência.

"Aqui há pessoas sem trabalho, famílias que não podiam mais pagar o aluguel, e outras, cansadas de viverem amontoadas, ou em situação de rua", resume Yamila, uma das ocupantes, em conversa com a AFP.

Ela mesma, uma jovem de 25 anos e assistente social desempregada, espera sair dessa situação. A crise econômica a levou de volta para a casa da mãe, onde mora com oito irmãos.

Distribuídos por mais de 100 hectares de terrenos baldios em Guernica, no segundo cordão da periferia sul de Buenos Aires, muitos usam máscaras, e cada grupo familiar mantém a distância um do outro o melhor que pode.

Um grupo de advogados entrou com uma liminar que suspendeu a ação de despejo apresentada contra essas famílias.

Com 15 milhões de habitantes, Buenos Aires é a província mais populosa e rica do país. Também é a que apresenta mais contraste socioeconômico, já que quase um em cada dois habitantes é pobre.

Seus bairros mais populosos, aqueles que abrangem a capital argentina, formam com ela a região metropolitana, onde ocorreram 90% dos quase 400.000 casos de coronavírus na Argentina, com mais de 8.000 mortes.

"Eu nasci e cresci em Guernica. Desde que me lembro havia um lixão aqui", conta Yamila, apontando para o local, onde agora estacas demarcam um lote improvisado.

Em 20 de julho, um grupo de pessoas começou a remover o matagal, afugentar os ratos e a se acomodar com quase nada. Uma semana depois, havia milhares.

"A crise econômica está muito forte e se agravou com a pandemia. Muitos de nós que pagamos aluguel tivemos que escolher entre pagar, ou comer", desabafa.

Em março, o governo de Alberto Fernández impôs restrições sanitárias para impedir o avanço da pandemia que, embora tenha abrandado a curva de contágio, destruiu os braços mais precários da economia. Entre os ocupantes do prédio, estão ex-empregadas domésticas, pintores, pedreiros e jardineiros.

"Eles foram trabalhadores até que tudo começou, e eles caíram em desgraça", completou Yamila.

Jael tem 38 anos e cinco filhas. Eles sobrevivem com o que seu marido ganha vendendo doces no trem, em meio ao número reduzido de passageiros pela quarentena.

Quando soube da ocupação, trouxe o que pôde em um carro em ruínas, única propriedade da família.

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