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É possível fazer uma boa vacina com a velocidade que pretende a Rússia?

Depois de anunciar nesta terça-feira (11) que desenvolveu a "primeira" vacina contra o COVID-19, batizada de Sputnik V, a Rússia pretende se posicionar na vanguarda dessa corrida planetária com importantes repercussões financeiras

AFP
11/08/2020 às 17:14.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:55

Depois de anunciar nesta terça-feira (11) que desenvolveu a "primeira" vacina contra o COVID-19, batizada de Sputnik V, a Rússia pretende se posicionar na vanguarda dessa corrida planetária com importantes repercussões financeiras. É preciso, porém, cuidado com os efeitos do anúncio e a possibilidade de decepção.

Em sua última atualização, em 31 de julho, a OMS listou 26 "vacinas candidatas" no mundo que estavam passando por testes clínicos (em humanos), em comparação com 11 em meados de junho. A maioria desses estudos está na fase 1 - destinada principalmente a avaliar a segurança do produto - ou na fase 2 - onde sua eficácia é testada.

Apenas cinco estão na fase 3, a mais avançada, em que a eficácia é verificada em maior escala, com milhares de voluntários. São elas: a vacina que está em desenvolvimento pelo laboratório alemão BioNTech e o americano Pfizer; a que é desenvolvida pela empresa americana de biotecnologia Moderna; os dois projetos dos laboratórios chineses Sinopharm e Sinovac; e o que é realizado pela Universidade de Oxford com a farmacêutica britânica AstraZeneca.

A vacina russa, desenvolvida pelo Centro de Pesquisas em Epidemiologia e Microbiologia Nikolai Gamaleya, do Ministério da Defesa da Rússia, está na fase 1, segundo dados da OMS.

No entanto, o fundo soberano russo envolvido em seu desenvolvimento garante que a fase 3 dos testes clínicos começará nesta quarta-feira. De acordo com as autoridades médicas russas, professores e personalidades médicas começarão a ser vacinados a partir de agosto, antes do início da administração na população, prevista para 1º de janeiro de 2021.

Algumas equipes estão trabalhando em vacinas clássicas que usam um vírus inativado. Existem também as chamadas vacinas subunitárias, baseadas em proteínas (antígenos) que induzem uma resposta imune, sem vírus.

Outras ainda, conhecidas como vacinas de vetor viral, são mais inovadoras: usam como suporte outro vírus, no qual se transformam e se adaptam para combater a COVID-19. É a técnica escolhida tanto pelos russos quanto pela Universidade de Oxford, que utilizam um adenovírus (família de vírus muito comuns) de chimpanzé.

Além disso, alguns projetos baseiam-se em vacinas de DNA ou RNA, produtos experimentais que utilizam material genético modificado.

"Quanto mais candidatos e mais tipos de vacinas houver, maior será a probabilidade de obter alguma coisa", disse à AFP Daniel Floret, vice-presidente da Comissão Técnica de Vacinas.

O Ministério da Saúde russo garante que sua vacina permite "gerar uma imunidade prolongada", de até "dois anos". O problema é que os dados sobre os quais essas afirmações se baseiam não foram divulgados.

"Esta afirmação é prematura, pois não sabemos se esta vacina (ou qualquer outra) irá proteger contra a COVID-19" ou "qual será a duração da imunidade. Na realidade, a distância das primeiras imunizações no homem é apenas de alguns meses/semanas", alertou a virologista francesa Marie-Paule Kieny, ex-vice-diretora geral da OMS, à AFP.

Em geral, até agora, apenas resultados preliminares (fases 1 e 2) foram publicados. As mais recentes são as vacinas candidatas da Universidade de Oxford e da empresa chinesa CanSino, publicadas em 20 de julho, que mostraram que são bem toleradas pelos pacientes e provocam "uma forte resposta imunológica".

Mas "não sabemos se esses níveis de imunidade podem proteger contra a infecção (...) ou se esta vacina pode proteger os mais frágeis das formas graves de COVID-19", afirmou Jonathan Ball, professor de virologia molecular da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

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