Riscos ainda existem

Economistas avaliam a empregabilidade na RMP

Economistas comemoram a empregabilidade na RMP, porém, apontam futuros percalços neste ano

José Ricardo Ferreira
08/05/2022 às 08:28.
Atualizado em 10/05/2022 às 08:48

Sonho de emprego formal está longe para 11,9 milhões de brasileiros (Marcelo Casal Jr./ABr)

Os números positivos das vagas de emprego com carteira assinada na Região Metropolitana de Piracicaba (RMP) são observados sob uma análise que sustenta otimismo, mas também cautela, segundo consideram os economistas e professores Francisco Crocomo e Igor Vasconcelos Nogueira.

Levantamento da Gazeta apontou, há uma semana, que o nível de emprego na RMP em 2021 foi amplamente positivo. Somente duas das 24 cidades da RMP apresentaram recuo nas vagas: Pirassununga registrou 8.397 admissões contra 8.517 dispensas (-120 vagas); Rafard teve menos três vagas, praticamente geração estável (819 admissões e 821 desligamentos).

O primeiro trimestre de 2022 também dá bons sinais. Em janeiro, das 24 cidades, 17 tiveram vagas positivas; fevereiro houve o mesmo comportamento com 17 municípios positivos e sete negativos; março houve pequeno recuo com 16 cidades preservando vagas, sete com perdas e uma com saldo zero, no caso Ipeúna.

Piracicaba mantém-se com vagas positivas em todos os quadros: em 2021, manteve 7.441 postos com carteira assinada, resultado de 53.883 contratações contra 46.442 dispensas; no primeiro trimestre teve +673, +987 e +686, respectivamente. 

Os dados sobre o emprego na RMP e no país estão disponíveis no Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Previdência.

Crocomo, que é professor na EEP (Escola de Engenharia de Piracicaba) e na Fatep (Faculdade de Tecnologia de Piracicaba) lembra que existe, mesmo informalmente, muita gente trabalhando em prol da sociedade. “Desta forma podemos incluir todos: os empregados formais e informais, quem participa dos trabalhos doméstico e os empreendedores. Isso nos faz refletir a respeito da importância do trabalho no sistema econômico em que vivemos”, explicou.

A situação da economia no mundo, de forma geral, passa por grande crise, segundo aponta Crocomo. “Crise causada pela pandemia que ainda persiste. Além das mortes causadas, ela interfere na logística dos meios de produção no mundo. Também, infelizmente, temos as guerras e ganância de poder de muitos, que além de ceifarem vidas interferem na economia e bem-estar do mundo todo”, explica ele.

Ele lembra que maio é o mês do trabalhador (comemorado no dia 1º). “Muitos trabalhadores que acabaram perdendo sua vida por conta da pandemia, seja por estar nas frentes de trabalho da saúde, seja por trabalhar em prol da continuidade da economia, necessária a sobrevivência de muitos. A todos eles nossos agradecimentos profundos”, declara.

Em relação ao emprego, Crocomo explica que no Brasil a taxa de desemprego é de cerca de 11%. São pessoas em condições de trabalhar, mas desocupadas, ou em trabalho precário. “Temos que lembrar que este índice não leva em consideração pessoas que não procuram emprego por desalento, desta forma o desemprego é bem maior que este índice”, explica.

“Passamos pela maior inflação em 27 anos no mês de abril. O preço dos combustíveis está sofrendo elevações constantes e impactando os preços de todos os outros produtos, pela questão do transporte. Teremos mais aumento no preço da energia elétrica dentre outros. A dependência do dólar no Brasil é muito grande, e ele insiste em subir por causas externas e por nossa instabilidade da política econômica brasileira”, explica Crocomo.

Vivemos, disse ele, em uma região privilegiada, pois tem uma boa dinâmica em diversos setores. “O emprego de certa forma tem apresentado pequenas melhoras, ainda longe do ideal, e com salários menores pela maior oferta de trabalhadores. Por outro lado, a inflação vem causando grande corrosão do poder de compra da população”, disse o economista. 

Soluções

“Necessitamos de políticas públicas que apontem para ações diretas em prol do trabalhador, ou seja do povo em geral. Políticas públicas que sejam integradas. Necessitamos que sejam revistas todas as reformas realizadas, para que sejam direcionadas para o bem-estar da população. Não podemos mais depender de políticas de última hora, com interesses particulares. O Brasil tem recursos para pensar em seu desenvolvimento, para isso obrigatoriamente tem que investir em educação, qualificação e cultura. O brasileiro é diferenciado e criativo, temos condições de sermos desenvolvidos. Desta forma teremos, um dia, motivos para comemorar todos os dias o nosso trabalho”, explicou Crocomo.

Impressão

O professor Igor Nogueira é docente da área de Gestão do IFSP (Instituto Federal de São Paulo - câmpus de Capivari)

Em uma análise preliminar, disse ele, com os dados disponíveis no Novo Caged para 2022, a impressão que se tem na RMP é que a geração de emprego está aquecida, visto que houve um saldo positivo em março de 2022 de 1.301 empregos (18.584 admitidos contra 17.283 desligados); em fevereiro de 2022 de 2.851 postos (19.582 admitidos contra 16.731 desligados) e em janeiro de 2022 de 2.520 (17.682 admitidos contra 15.162 desligados).

“Contudo, deve-se observar que em dezembro de 2021 houve um saldo negativo de 4.099, sendo 16.326 desligamentos contra 12.227 admitidos. Além disso, nos meses de outubro e novembro de 2021, o saldo de geração de empregos foi praticamente nulo, portanto, o saldo real de geração de emprego na RMP, nos três primeiros meses de 2022 em relação a dezembro de 2021, foi de 2.573 empregos”, detalha o economista.

Mesmo assim, afirma Igor Nogueira, pode-se considerar animador o saldo positivo na geração de empregos da RMP nos três primeiros meses de 2022, demonstrando a capacidade de recuperação econômica da região”, afirma. 

Igor Nogueira e Crocomo lembram que as projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional) para taxa de desemprego do Brasil em 2022 colocam o país na 9<SC210,170> pior posição entre os 102 países analisados, com uma taxa de desemprego estimada em 13,7%, diante da média mundial prevista de 7,7%. 
“Sendo inclusive a estimativa de desemprego brasileira para 2022 superior à média dos países emergentes e a segunda maior entre os países do G20, ficando atrás apenas da África do Sul”, aponta Igor Nogueira.

“Neste cenário, por mais otimista que sejamos em relação ao saldo positivo de empregos nos três primeiros meses do ano na RMP, não é possível acreditar que a região será imune às previsões do FMI, ainda mais em um ano eleitoral, no qual o setor público possui restrições legais para aumentar o gasto público e o setor privado tente a aguardar uma definição do cenário político, antes de quaisquer investimentos. Desta forma, a RMP também deverá sofrer com uma elevada taxa de desemprego em 2022”, explicou o economista.

Igor Nogueira ressalta que, da geração de empregos observada na RMP em 2022, a maior parte foi no setor de serviços que tende a se recuperar mais rapidamente após uma crise econômica, como a da Covid-19, mas que também oferece uma remuneração média menor que os demais setores, sobretudo o setor industrial, refletindo também em uma perda do poder de compra do trabalhador.

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