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Em Moria, refugiados se dividem entre esperança e sofrimento

Um grupo de afegãos empina suas pipas sobre o insalubre acampamento de Moria, agora destruído, para tentar "driblar a morte, a dor e a gravidade", incentivado pelo jesuíta Maurice Joyeux, que passou seis meses confinado ao lado do refugiados na ilha grega de Lesbos

AFP
14/12/2020 às 09:41.
Atualizado em 24/03/2022 às 04:21

Um grupo de afegãos empina suas pipas sobre o insalubre acampamento de Moria, agora destruído, para tentar "driblar a morte, a dor e a gravidade", incentivado pelo jesuíta Maurice Joyeux, que passou seis meses confinado ao lado do refugiados na ilha grega de Lesbos.

O acampamento de Moria, o maior campo de refugiados da Europa, foi completamente destruído por um incêndio em setembro. Milhares de migrantes tiveram de sobreviver por vários dias ao relento, até serem transferidos para outro centro construído de modo emergencial na mesma ilha.

Antes da destruição de Moria, porém, Mortaza Behboudi, um jornalista afegão refugiado na França, e o padre Joyeux, então responsável pelo serviço jesuíta de refugiados em Atenas, decidiram viver o confinamento com os "grandes esquecidos" da pandemia do coronavírus.

Por mais de seis meses, compartilham sua vida, a indignação, os problemas, a injustiça, mas, acima de tudo, a esperança de vislumbrar a luz no fim do túnel, como se vê no documentário "Moria, para além do inferno" (em tradução livre), veiculado na segunda-feira na rede católica KTO.

A diretora Laurence Monroe "quis filmar refugiados que criaram laços, ajudando os outros, sendo criativos e encontrando um sentido em suas vidas neste inferno".

Junto com ela, codirige o documentário Mortaza Behboudi, um afegão agora naturalizado francês, que em 2015 teve de sobreviver nas ruas de Paris.

Embora na Grécia a população estivesse desconfinada na primavera boreal (outono no Brasil), o confinamento dos migrantes de Moria se prolongou por até seis vezes desde março, apesar da ausência de casos de covid-19.

Mas, "em meio às dificuldades (...), é importante estar atento ao que é belo", afirma Maurice Joyeux no documentário, coproduzido pela Tita Productions e KTO.

"Quantos refugiados há neste acampamento, nos quais nunca ninguém prestou atenção?", pergunta este padre, que percorre as precárias instalações "ao ritmo do povo", ouvindo os migrantes e estimulando-os em seus sonhos.

Um deles sonha com guitarras, para colocar música entre os jovens. Outro quer fazer pipas para ajudar os afegãos a sorrirem. A adolescente Elaha sonha com uma escola para as crianças pequenas em Moria, com cadernos e canetas.

"Há sofrimento, violência, mas isso não vai roubar minha esperança", explica Maurice Joyeux a um grupo de refugiados africanos, cuja raiva explode diante das câmeras.

"O que é a Europa? Não somos seres humanos?", grita um deles. "Vocês dormem bem, vivem bem, comem bem. Por que nos tratam assim?", pergunta, entre lágrimas.

chv/ob/es/me/tt

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