INTERNACIONAL

Em uma Europa que avança na reabertura, Noruega é a exceção

"Acho que não voltarei a vê-la com vida", lamenta Bettina Wintermark, impedida de viajar para a França para visitar a mãe enferma porque a Noruega, seu país de adoção, mantém praticamente todas as fronteiras fechadas para enfrentar a pandemia de COVID-19

AFP
23/06/2020 às 08:25.
Atualizado em 27/03/2022 às 16:07

"Acho que não voltarei a vê-la com vida", lamenta Bettina Wintermark, impedida de viajar para a França para visitar a mãe enferma porque a Noruega, seu país de adoção, mantém praticamente todas as fronteiras fechadas para enfrentar a pandemia de COVID-19.

O reino nórdico conseguiu conter rapidamente a epidemia, mas agora se recusa a suspender ou, pelo menos, flexibilizar as severas restrições de viagens - o que faz da Noruega, possivelmente, o país mais fechado da Europa.

A entrada no território continua proibida à maioria dos não residentes. E as viagens ao exterior, embora não formalmente proibidas, estão submetidas a uma quarentena de 10 dias no retorno, uma norma em vigor até 20 de agosto.

Como resultado, os noruegueses não passarão férias no Mediterrâneo este ano. Até a primeira-ministra Erna Solberg desistiu de sua habitual viagem de verão para a Espanha.

Para algumas pessoas, a prudência excessiva tem consequências graves.

Bettina Wintermark não pode viajar para Bordeaux, no sudoeste da França, para visitar a mãe de 84 anos, vítima de uma hemorragia interna e que não sobreviverá por mais do que algumas semanas, de acordo com os médicos.

"É um pesadelo", afirma a cabeleireira, de 59 anos.

"Se a Noruega não tivesse restrições tão severas, eu já teria viajado. Mas não posso fazer várias viagens de ida de volta à França, porque não posso passar dez dias de quarentena a cada vez", explica.

A Noruega teve a capacidade de conter a epidemia, que provocou 248 mortes entre 5,4 milhões de habitantes. Agora, as autoridades alegam que uma reabertura precipitada poderia pôr a perder os sacrifícios feitos até então por todo país.

"Não fazemos isto para irritar as pessoas, e sim porque devemos absolutamente manter a situação sob controle", declarou a ministra da Justiça, Monica Maeland, que coordena a luta contra a COVID-19.

A Noruega, que não faz parte da UE mas integra o espaço Schengen de livre-circulação de pessoas, reabriu as fronteiras apenas com Dinamarca, Finlândia e Islândia, três países que estão entre os poucos membros a manter importantes restrições à entrada de turistas do espaço Schengen.

Muito afetado, o setor de turismo pressiona pela suspensão rápida das restrições com a Alemanha, responsável por quase 25% dos turistas estrangeiros no verão.

"Voltar a abrir as fronteiras com este país seria o melhor plano de resgate para o turismo norueguês, sem custar nada", defende o diretor da organização Norsk Reiseliv, Per-Arne Tuftin.

Além disso, as viagens para e a partir da Suécia, onde a epidemia tem uma forte propagação, estão desaconselhadas.

E isso para grande frustração das 12.000 famílias norueguesas que têm no país vizinho uma segunda residência.

"Muitos chalés ficam isolados na floresta, ou na costa. Não há praticamente ninguém, e você fica muito mais seguro do que em Oslo, onde as praias estão lotadas", reclama Einar Rudaa, que criou um grupo de protesto no Facebook.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por