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Entre dor e resiliência, o dilema das homenagens às vítimas de terrorismo

Uma questão ressurge nos países ocidentais depois de cada ataque terrorista: como homenagear as vítimas, relembrar seu sofrimento e demonstrar a resiliência da sociedade sem dar aos autores dos ataques a visibilidade que buscam?De Madri a Oklahoma, de Nova York a Bruxelas, Oslo ou Manchester, os governos e a opinião pública estão cada vez mais conscientes da necessidade de ter espaços físicos, museus ou memoriais, que permitam recordar os atentados terroristas e ajudar as vítimas a lidar com sua dor

AFP
10/03/2021 às 12:55.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:23

Uma questão ressurge nos países ocidentais depois de cada ataque terrorista: como homenagear as vítimas, relembrar seu sofrimento e demonstrar a resiliência da sociedade sem dar aos autores dos ataques a visibilidade que buscam?

De Madri a Oklahoma, de Nova York a Bruxelas, Oslo ou Manchester, os governos e a opinião pública estão cada vez mais conscientes da necessidade de ter espaços físicos, museus ou memoriais, que permitam recordar os atentados terroristas e ajudar as vítimas a lidar com sua dor.

"A construção de memoriais de recordação dos ataques terroristas se tornou uma espécie de norma cultural não escrita", constata Jeanine de Roy van Zuijdewijn, pesquisadora da Universidade de Leiden (Holanda).

Esses espaços, no entanto, não têm o mesmo significado para os sobreviventes e suas famílias do que para os historiadores, vizinhos ou as forças de segurança.

"Qual é o propósito de um memorial nacional? Homenagear as vítimas, refletir o trauma e as emoções vividas, mostrar resiliência, destacar valores nacionais, ou outras coisas?", questiona Roy van Zuijdewin.

Segundo ela, "alguns desses objetivos podem ser contraditórios. Às vezes, o local é deixado como estava para não dar visibilidade ao ato terrorista".

Na Noruega, após os atentados cometidos em 2011 pelo ultra-direitista Anders Behring Breivik, que deixaram 77 mortos, a ideia de construir um memorial nacional na ilha de Utoya (onde morreram 69 pessoas) provocou a oposição dos vizinhos, que não queriam continuar carregando o peso da lembrança traumática.

Após seis anos de litígios, um tribunal decretou em fevereiro a construção do monumento de homenagem.

Em Nova York está um dos maiores memoriais do mundo, que lembra as 3.000 vítimas do atentado terrorista d aAl-Qaeda contra as Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Outros chefes de Estado e de governo, como a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, buscam alternativas para não reviver a dor.

Após o atentado de Christchurch em 2019, que deixou 51 mortos, Arden se recusa a pronunciar o nome do autor do atentado, o ultra-direitista Brenton Tarrant. "Uma das coisas que ele queria era a fama, por isso nunca vão me ouvir dizer seu nome".

No entanto, parece impossível imaginar um museu memorial que não aborde as motivações e a identidade dos autores dos atos terroristas.

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