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Epidemias, um outro risco do aquecimento global

O despertar de um vírus pré-histórico congelado, o ressurgimento da varíola, a dengue que se instala na Europa, entre outras hipóteses dignas de filmes de catástrofe, estão sendo seriamente estudadas pelos cientistas, preocupados com o risco de epidemias ligadas ao aquecimento global

AFP
17/08/2020 às 10:36.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:12

O despertar de um vírus pré-histórico congelado, o ressurgimento da varíola, a dengue que se instala na Europa, entre outras hipóteses dignas de filmes de catástrofe, estão sendo seriamente estudadas pelos cientistas, preocupados com o risco de epidemias ligadas ao aquecimento global.

A pandemia de COVID-19, com seu vírus sem dúvida procedente de um morcego, expôs os perigos das interferências cada vez mais significativas entre as atividades humanas e a natureza.

Mas o risco de epidemias também pode ser gerado pelas mudanças climáticas, que provocam o deslocamento de mosquitos portadores da malária ou da dengue, e o início do degelo do permafrost, onde micróbios de outras épocas estão presos.

"Nosso maior inimigo é nossa própria ignorância, porque a natureza está cheia de microorganismos", principalmente no permafrost, "verdadeira caixa de pandora", disse à AFP Birgitta Evengard, microbiologista da Universidade de Umea, na Suécia.

Uma parte "importante" dos solos permanentemente congelados pode se descongelar em 2100, liberando dezenas ou centenas de bilhões de toneladas de gás de efeito estufa, segundo os especialistas do clima da ONU (Giec).

E não é só isso. "Os microorganismos podem sobreviver em um meio congelado por muito tempo", alerta o professor Vladimir Romanovsky, da Universidade de Alasca, em Fairbanks.

Esses organismos revividos atacam somente as amebas. Mas nessas regiões geladas, "os neandertais, mamutes e rinocerontes peludos adoeceram, morreram, caíram. É possível que todos os vírus que causaram seus problemas ainda estejam no solo", alerta o professor Jean-Michel Claverie.

O número de bactérias ou vírus aprisionados é incalculável. O que preocupa é saber se são perigosos e, neste ponto, os cientistas estão divididos.

"O antraz prova que uma bactéria pode dormir no permafrost por centenas de anos e ser revivida", destaca Birgitta Evengard.

Em 2016, na Sibéria, uma criança morreu vítima de antraz mesmo essa bactéria tendo desaparecido da região há 75 anos.

Outros patógenos conhecidos, como os vírus da gripe de 1917 ou da varíola, também estariam preservados nas camadas geladas dos cemitérios árticos onde as vítimas de velhas epidemias foram enterradas.

O "verdadeiro perigo", segundo o professor Claverie, estaria nas camadas profundas que podem ter 2 milhões de anos e que potencialmente escondem patógenos desconhecidos.

Mas, em todo caso, esses patógenos precisariam de um hospedeiro para sobreviver. Um encontro que a mudança climática pode proporcionar.

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