INTERNACIONAL

Estresse, ansiedade, depressão: pandemia causa danos psicológicos nos jovens

"Olá, aqui é Nightline, estou ouvindo". Os telefones dessa linha gratuita de atenção para estudantes em Paris não param de tocar desde março

AFP
19/11/2020 às 09:07.
Atualizado em 24/03/2022 às 01:40

"Olá, aqui é Nightline, estou ouvindo". Os telefones dessa linha gratuita de atenção para estudantes em Paris não param de tocar desde março. Depressão, ansiedade, dificuldade para dormir... A pandemia deixou uma enorme marca psicológica nos jovens.

Todas as noites, entre 21h30 e 2h, essa associação dirigida por estudantes recebe dezenas de ligações de outras pessoas com sintomas de ansiedade, ou sintomas depressivos, devido ao confinamento.

"Quando você começou a se sentir assim?", pergunta um dos 60 voluntários do Nightline que, após treinamento, revezam-se no telefone.

Do outro lado da linha, jovens entre 18 e 24 anos procuram um ouvido amigável para desabafar.

Os voluntários não dão conselhos diretos, mas apenas ouvem com empatia, com compaixão e sem julgamentos.

"Às vezes é mais fácil desabafar com alguém com quem não se tem uma relação hierárquica, como um psicólogo, alguém como eles que pode entender o que está passando", diz à AFP Daphne Argyrou, que trabalha na Nightline há dois anos.

Por questões de sigilo, os voluntários não podem revelar os detalhes das conversas, mas apontam entre os sintomas mais recorrentes problemas de ansiedade, tristeza, isolamento, baixo-astral, insônia e aparecimento de transtornos como depressão.

"Encontramos os temas usuais, como problemas de solidão, ou incertezas sobre o futuro, mas agravados pelo confinamento", explica à AFP Florian Tirana, presidente da Nightline França.

"Também recebemos muitos telefonemas de estudantes estrangeiros, que têm problemas particulares... Não é fácil ficar confinado em um país que não é o deles, cuja língua não falam, com outros códigos culturais", acrescenta.

Criada em 2016, a associação percebeu uma explosão no número de ligações desde o dia em que foi decretado o primeiro confinamento na França, em 17 de março.

"Entre 40 e 50 pessoas procuram nos contatar todas as noites por telefone, ou por chat, é o dobro do ano passado", diz Tirana.

E os telefones tocam ainda mais desde que um segundo confinamento foi decretado há 15 dias para desacelerar o avanço do novo coronavírus, que já ceifou a vida de quase 47.000 pessoas na França.

De acordo com uma pesquisa nacional realizada pelo Observatório Francês da Vida do Estudante (OVE), metade dos estudantes sofreu de solidão, ou de isolamento, durante o primeiro confinamento. E 31% deles apresentaram transtornos psicológicos.

Estudantes estrangeiros e com dificuldades financeiras são os mais afetados.

Muitos alunos também procuram ajuda de profissionais. "Em tempo normal, o sistema já está lotado, mas agora está completamente saturado", diz a psiquiatra Dominique Montchablon, chefe de departamento da Fundação de Saúde Estudantil da França.

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