DINHEIRO CONSCIENTE

Estudante cria curso de educação financeira

Gleydson Mota, da Esalq, ensina 180 alunos de escolas técnicas

Juliana Franco
juliana.franco@gazetadepiracicaba.com.br
27/06/2016 às 10:05.
Atualizado em 28/04/2022 às 05:12

Gleydson Mota ministra ensinamentos sobre planejamento financeiro a estudantes de Etecs (Christiano Diehl Neto )

O planejamento financeiro pode proporcionar uma qualidade de vida melhor no presente e a realização de sonhos no futuro. Parece algo simples, mas o brasileiro tem uma cultura mais imediatista e, os jovens, ainda mais. Principalmente aqueles que têm um modo de vida mais voltado ao consumo e têm como aliada a conexão via internet com sites de compras e de empresas. A educação financeira pode colaborar para evitar o endividamento por gastos excessivos e contribuir para sobrar um pouco para investimentos, que podem ser em viagens, estudos e na aquisição de bens (carro e imóvel). No curso de Ciências Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o estudante do quarto ano, Gleydson Mota, avaliou como a educação financeira ainda é “incipiente” no Brasil, diferente do que ocorre em países desenvolvidos, que têm essa disciplina como uma das ferramentas do empreendedorismo. Preocupado com isso, ele desenvolveu um projeto para transmitir esse conhecimento a alunos do Ensino Médio. Conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para ensinar 180 estudantes das Escolas Técnicas Estaduais do 'Centro Paula Souza' de Piracicaba, a Etec 'Coronel Fernando Febeliano da Costa' (Industrial) e a Etec 'Deputado Ary de Camargo Pedroso' (Paulista). “Criei o curso motivado pela minha paixão pelas finanças pessoais, empreendedorismo e pessoas. O projeto também vai avaliar o impacto da educação financeira nos jovens do Ensino Médio dessas escolas de Piracicaba. Meu objetivo é ampliar essa ação para outras instituições de ensino da cidade no segundo semestre”, disse Mota. O diretor da Etec Coronel Fernando Febeliano da Costa, Klaber José Marcello e o coordenador pedagógico Edson Roberto Rezende, disseram que a aceitação dos alunos foi imediata. “O curso começou no ano passado. É uma atividade de extensão realizada após o período das aulas e tem uma dinâmica que o aluno consegue aplicar nas suas atividades diárias e compreender como as mudanças do mercado financeiro afetam o seu cotidiano”, disseram. O diretor ressaltou ainda que após o curso, os alunos começam a analisar mais os seus gastos e melhoraram nas aulas de matemática e do curso integrado em administração. Planilhas Para que os alunos comecem a praticar os ensinamentos, Mota propôs, antes de tudo, um diálogo entre pais e filhos e forneceu planilhas para as anotações das receitas e das despesas. “Muitos pais acreditam que a discussão sobre o orçamento familiar não é algo para ser debatido em família. Os adultos não solicitam a participação dos filhos. Isso inibe o interesse pelas finanças pessoais e da casa. Os adolescentes também podem ser protagonistas nas decisões das contas da casa e colaborar com o orçamento familiar”, afirmou. Para isso, ele preparou um curso que trabalha os conceitos das finanças pessoais como o consumo, orçamento familiar, administração das dívidas, poupança, investimento, previdência privada entre outros. “Acredito que a educação financeira tem um papel desenvolvimentista. Por meio da informação, os beneficiados por esta ação podem mudar seu comportamento, podem se tornar consumidores conscientes, preocupados com a sua saúde financeira e aptos a realizar investimentos, planejando sua previdência, traçando um caminho de sucesso no que tange aos seus sonhos financeiros”, afirmou. Mota analisa que essa é uma mudança que o adolescente leva para toda a vida e com a Economia estável (com exceção dos períodos de crise) fica mais fácil aprender. “Os pais desses jovens de hoje conviveram com um longo período inflacionário e não se conseguia poupar ou planejar, porque o dinheiro ganho no trabalho conseguia cobrir apenas as necessidades básicas. Era necessário estocar alimentos, porque o preço subia diariamente. A inflação alta prejudicava as classes C, D e E. Essas pessoas sofriam muito”. Com a estabilização econômica, houve uma mudança no consumo, houve mais ofertas de produtos e a expansão do crédito. “No entanto, essa nova realidade não veio acompanhada da educação financeira e muitas pessoas ficaram endividadas além da sua capacidade de liquidez” O estudande da Esalq avalia que um grande passo será dado se os consumidores de todas as camadas sociais forem educados financeiramente, contribuindo para o seu desenvolvimento econômico e social. “Eles tomarão atitudes mais racionais e estarão enquadrados no contexto de Economia formal”, conta. Curso As aulas são teóricas e práticas e são aplicadas por três meses. Os temas são divididos em sete módulos. “Procuro despertar o interesse dos jovens pelas finanças. Eles aprendem que há muitas opções de investimentos além da caderneta de poupança e que o planejamento pode resultar na realização de seus sonhos”, concluiu. Decisões em família O estudante de ciências econômicas da Esalq, Gleydson Mota, afirma que o consumo consciente, que também é aprendido no curso sobre educação financeira, pode contribuir para evitar que os jovens se endividem. “O problema não é a compra, mas a qualidade da dívida. Os jovens têm feitos endividamentos de itens de baixo valor, como roupas e calçados e ainda com cartão de crédito, que requer muita disciplina. Por isso, esse trabalho também avalia o impacto do curso na melhora do conhecimento dos alunos sobre educação financeira e na mudança desse comportamento. Com a crise, também inclui aulas desse tema, que exige reorganização do orçamento familiar”, afirmou Mota. Foi exatamente isso que teve de praticar a família de Lucia Usberti Rodrigues, 15 anos de idade, aluna do primeiro ano do Ensino Técnico Integrado ao Médio (Etim) da Etec 'Coronel Fernando Febeliano da Costa'. “Com o curso do Gleydson percebi o quanto ele tem a ver com as aulas de administração e com o dia a dia. Com as planilhas, tenho ajudado meus pais que estão desempregados”, contou. O pai de Lucia é mecânico e tem feito alguns serviços. A mãe é comerciante, mas como eles mudaram recentemente de Sumaré para Piracicaba, ela ainda está sem trabalho. “Antes meus pais não falavam comigo sobre o orçamento. Agora nós decidimos juntos. Cortamos as compras diárias e passamos a fazê-las mensalmente. A economia foi grande. Agora meus pais até me pedem dicas e controlamos bem melhor o orçamento”.

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