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Etiópia nega à ONU acesso irrestrito à região de Tigré

A Etiópia admitiu nesta terça-feira (8) que as forças governamentais atiraram contra uma equipe da ONU em Tigré e negou, ao mesmo tempo, ter dado acesso "irrestrito" nesta região aos encarregados da ajuda humanitária

AFP
08/12/2020 às 16:52.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:52

A Etiópia admitiu nesta terça-feira (8) que as forças governamentais atiraram contra uma equipe da ONU em Tigré e negou, ao mesmo tempo, ter dado acesso "irrestrito" nesta região aos encarregados da ajuda humanitária.

"Não existe acesso ilimitado a todos os rincões da Etiópia", disse nesta terça o porta-voz da célula de crise do governo, Redwan Hussein, considerando que "o acesso fornecido às Nações Unidas é parte de um quadro elaborado por uma nação soberana, coordenado por seu governo".

Sobre o incidente com a equipe da ONU, o porta-voz afirmou que seus membros "pularam duas blitzes, dirigindo seus veículos aonde não tinham autorização e depois de terem sido informados de que não podiam ir".

"Quando estavam prestes a pular a terceira, foram alvo de disparos e detidos", afirmou Redwan, destacando que "obviamente, foram liberados" em seguida.

As Nações Unidas e as organizações humanitárias informaram nesta terça que estavam cada vez mais preocupadas com a situação em Tigré, onde as autoridades de Adis Abeba - segundo a ONU - tinham-lhes dado acesso humanitário "sem restrições".

A região de Tigré está privada de todo tipo de provisões e ajuda desde que, em 4 de novembro, o primeiro-ministro Abiy Ahmed, prêmio Nobel da Paz em 2019, destacou o exército para expulsar os líderes da região, integrantes da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que desafiaram sua autoridade durante meses.

Dez dias depois de Abiy afirmar que a operação militar em Tigré "terminou" com a tomada da capital regional, Mekele, a ajuda humanitária ainda não começou a ser transportada e se desconhece a real situação sobre segurança e necessidades.

O acesso a Tigré é "absolutamente necessário", lamentou-se nesta terça, em Genebra, a porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), Babar Baloch.

"A situação humanitária é cada vez mais crítica" e "é vital que as organizações humanitárias estejam em condições de assistir rapidamente as pessoas" no terreno.

"Já passou um mês desde que não temos acesso aos (aproximadamente 96.000) refugiados eritreus", que vivem em quatro acampamentos, destacou Baloch.

Ele havia estimado recentemente que a provisão de alimentos já devia ter terminado.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou que está "muito preocupado com a situação em Tigré", considerando "essencial restabelecer rapidamente o Estado de direito, fazer respeitar os direitos humanos e restabelecer os serviços públicos, assim como garantir o acesso humanitário sem restrições".

No domingo, um médico admitiu que o principal hospital de Mekele não podia mais funcionar por falta de eletricidade, equipamentos e medicamentos básicos.

"Quanto antes chegarmos aos hospitais (de Tigré) com ajuda médica, será melhor para centenas de feridos e doentes", tuitou o diretor para a África do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Patrick Youssef.

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