INTERNACIONAL

EUA: magnata Tom Steyer irrompe nas primárias e promete indenização a descendentes de escravos

A Carolina do Sul tem uma história complexa, com um passado ligado à escravidão até o início do século XIX

AFP
28/02/2020 às 14:07.
Atualizado em 07/04/2022 às 09:25

A Carolina do Sul tem uma história complexa, com um passado ligado à escravidão até o início do século XIX. Agora, um pré-candidato democrata quase desconhecido ganha popularidade neste estado do sudeste dos Estados Unidos com a promessa de indenizar os descendentes dos africanos levados como escravos para o país.

Um ex-investidor da Califórnia que se transformou em filantropo e ativista ambiental, o bilionário Tom Steyer gastou milhões de dólares apenas na Carolina do Sul. A maioria dos recursos foi gasta em anúncios que inundam a televisão.

Suas principais promessas de campanha são lutar contra a mudança climática e indenizar os descendentes de escravos. Entre outras medidas, propõe financiar universidades de comunidades negras historicamente marginalizadas.

Em um restaurante mexicano em Myrtle Beach, Steyer fazia, esta semana, uma de suas últimas paradas antes das primárias de sábado (29), quando será possível medir, pela primeira vez, o sentimento do eleitoral afro-americano em relação aos candidatos democratas.

"Tem que dizer a verdade sobre o que aconteceu", disse o pré-candidato, que vestia sua característica camisa azul de mangas dobradas.

"Tem que reparar o que se fez e avançar juntos", completou.

Ele insistiu que, enquanto o país não abordar, com franqueza, seu "subtexto racial" e oferecer as mesmas oportunidades para todos, não poderá avançar.

Um público diverso de cerca de 100 pessoas aplaudiu com entusiasmo.

"Ele traz algo novo", disse à AFP Teresa Skinner, uma enfermeira de 51 anos. "É algo iluminador. Ele vem de outro lugar. Ele vem como um indivíduo que quer que sejamos melhor do que somos. Agora somos uma nação muito dividida".

Esta semana, Steyer divulgou um vídeo, cujas imagens mostram uma ilustração dos horrores da tortura sofrida pelos escravos, enquanto um narrador diz: "Durante 400 anos, este país construiu um sistema racista que se beneficiou das costas de corpos negros presos. É hora de reparar".

O resultado é que este progressista desconhecido no restante do país é um dos candidatos líderes nas pesquisas na Carolina do Sul, atrás do ex-vice-presidente Joe Biden e do progressista Bernie Sanders.

Sua popularidade "se deve, principalmente, ao fato de Tom Steyer estar adotando uma posição muito agressiva em relação às indenizações para os afro-americanos. É um tema em que os demais candidatos não estão tocando", disse à AFP Robert Greene, professor de História da Universidade de Claflin e especialista em assuntos afro-americanos.

E a votação na Carolina do Sul, estado onde 60% dos democratas são negros, pode influenciar a decisão dos afro-americanos em nível nacional, completou Greene.

O tema das indenizações não é por acaso. É uma questão debatida há décadas no país e que vem se tornando um movimento.

Em abril, os estudantes da Universidade Georgetown, em Washington, votaram a favor de se criar um fundo para indenizar os descendentes dos 272 escravos vendidos pela escola jesuíta para financiar suas operações em 1838.

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