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Extrema direita europeia usa críticas e conspiração para se proteger da pandemia

Os partidos da extrema direita da Europa "fracassaram em elaborar respostas coerentes" à crise da saúde, demonizando os governos e encorajando teorias da conspiração, sem poder lançar mão da imigração, segundo um estudo da fundação francesa Jean-Jaurès

AFP
17/05/2020 às 17:04.
Atualizado em 29/03/2022 às 23:25

Os partidos da extrema direita da Europa "fracassaram em elaborar respostas coerentes" à crise da saúde, demonizando os governos e encorajando teorias da conspiração, sem poder lançar mão da imigração, segundo um estudo da fundação francesa Jean-Jaurès.

"A rapidez com que a pandemia se espalhou, sem nenhuma relação com os fluxos migratórios limitados observados no final de fevereiro na ilha de Lesbos e, depois, em outras partes da Grécia, invalidou totalmente a exploração da questão da imigração como vetor da doença", avaliou o cientista político Jean-Yves Camus, diretor do Observatório das Radicalidades Políticas da fundação e autor do estudo.

A viagem feita no início de março à Grécia pelo vice-presidente do partido de extrema direita francês Agrupamento Nacional, Jordan Bardella, e o eurodeputado do mesmo partido Jérôme Rivière "teve um eco mínimo" enquanto os neonazistas do partido grego Aurora Dourada "desempenharam um papel insignificante" na crise, administrada pelo governo conservador, "sua polícia e seu exército".

"A ameaça da imigração como vetor da pandemia foi utilizada principalmente para denunciar o suposto desrespeito ao confinamento em alguns bairros com alta população imigrante, especialmente muçulmana", destacou o pesquisador, que lembrou que este tipo de relato, que vincula a imigração ao crime, é anterior à crise na saúde.

Os partidos de extrema direita também "exploraram mal" a crise quando alguns partidos no poder, como o Fidesz na Hungria, lhes "deixaram muito pouco espaço", por exemplo, fechando as fronteiras.

Outros governos administraram relativamente bem a crise, dificultando as críticas, como na Alemanha, onde o AfD alcançou níveis mínimos na intenção de voto desde 2017, diante do surgimento de uma nova formação (Widerstand 2020), hostil ao confinamento e com um discurso altamente conspiracionista.

Esses partidos "demonizaram" os executivos, concentrando suas críticas na origem do vírus, na globalização e na abertura das fronteiras, bem como na restrição de liberdades individuais, destacou Camus.

Alguns partidos, amantes das "causas ocultas", apontaram a influência da China dentro da Organização Mundial da Saúde, o que permitiu "reativar o tema do Ocidente na luta contra o comunismo".

Mencionaram a teoria de um vírus que teria escapado "acidentalmente" do laboratório de virologia de Wuhan, sem validá-la necessariamente, mas deixando escapar uma aura de "dúvida" a respeito.

A líder do Agrupamento Nacional, Marine Le Pen, acusou o governo francês de mentir "absolutamente sobre tudo", julgando que era "senso comum" perguntar se o vírus não havia "saído de um laboratório", enquanto 40% de seus apoiadores acreditam que o vírus foi "intencionalmente" fabricado.

Na França, o Agrupamento Nacional "só pode partir do preconceito segundo o qual o governo trai os interesses do povo e mente sobre a pandemia", explica Camus.

"O eleitor lepenista não acredita nas incertezas: para ele, o poder "sabe" ou "deve saber". Se duvida de suas decisões é porque "esconde" algo, além de ser incompetente".

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