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Fantasma da gripe espanhola volta a assombrar povoado do Arizona

"Se foi, mas não será esquecido", diz a lápide de Carl Axel Carlson, que morreu da gripe espanhola em 1918

AFP
28/07/2020 às 10:27.
Atualizado em 25/03/2022 às 17:58

"Se foi, mas não será esquecido", diz a lápide de Carl Axel Carlson, que morreu da gripe espanhola em 1918. Seu corpo levou o vírus a Bisbee, então próspero povoado minerador do Arizona e hoje uma cidade turística que luta para sobreviver à pandemia de coronavírus mais de um século depois.

A gripe espanhola "chegou de trem", explica à AFP o historiador local Mike Anderson.

Carlson morreu em setembro de 1918 em uma base militar em Nova Jersey e seu corpo foi enviado para o vilarejo, para ser enterrado com honras militares.

"Ele chegou a Bisbee na primeira semana de outubro e, dois ou três dias depois, [o vírus] já estava matando pessoas", diz Anderson, apontando para o túmulo de J. E. Henderson (1893-1918) e Clara L. Coffman (1884-1918), duas das 180 vítimas desse vírus na cidade.

A chegada da COVID-19 trouxe de volta a memória coletiva quase esquecida daquela crise de 102 anos atrás.

Desde então, muita coisa mudou nesta cidade de cerca de 5.200 habitantes, muito perto da fronteira mexicana e situada nas Montanhas Mule, com um clima fresco que os turistas adoram, um ambiente boêmio e moderna.

Onde, há mais de um século, havia cantinas e bordéis, hoje existem galerias de arte, butiques e restaurantes em edifícios vitorianos de madeira e tijolos bem preservados. Sua bela biblioteca permanece intacta.

A economia está praticamente paralisada, porém, com 57 casos de COVID-19, incluindo uma morte, um balanço insignificante entre os mais de 163.000 casos no Arizona, um dos estados mais afetados dos Estados Unidos.

A cidade está dividida entre a necessidade de fechar e mitigar o vírus - principalmente porque grande parte da população é idosa e vulnerável - e receber turistas e não ir à falência, mesmo que isso signifique se expor mais.

O prefeito David Smith explica que os primeiros contágios foram registrados quando uma avalanche de visitantes invadiu a cidade no feriado do Memorial Day em 25 de maio.

"Os bares estavam cheios", diz. "Há pessoas que simplesmente não se importam", criticou.

Anderson examina o passado, olhando artigos da imprensa local, com ordens de confinamento e até uma proibição de beijar para atenuar a propagação da gripe espanhola. Foram cerca de 50 milhões de mortos em todo mundo.

Há quem acredite hoje que as medidas do passado eram mais rigorosas, mas Anderson garante que a atividade de mineração, que a tornava uma das cidades mais prósperas do oeste dos Estados Unidos, nunca parou - em especial, porque a Primeira Guerra Mundial impulsionou a demanda e triplicou o preço do cobre.

À época, a cidade tinha mais de 25.000 habitantes, muitos mineiros que viviam e trabalhavam em locais insalubres e lotados.

"A gripe não discriminou nenhum grupo de pessoas. Matou professores, médicos, mineiros", lembra Anderson.

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