INTERNACIONAL

Favelas do Rio não têm paz, nem mesmo na pandemia

Os moradores das favelas do Rio de Janeiro lutam para se defender do novo coronavírus, da crise econômica e

AFP
28/05/2020 às 10:05.
Atualizado em 27/03/2022 às 22:32

Os moradores das favelas do Rio de Janeiro lutam para se defender do novo coronavírus, da crise econômica e... dos tiros.

Em meio à pandemia, as operações policiais na "guerra" contra o narcotráfico continuam a tirar vidas e frequentemente interrompem o trabalho humanitário nas comunidades, como a distribuição de alimentos e de produtos de higiene, além das campanhas de prevenção.

Somente em abril, a Polícia do Estado do Rio de Janeiro matou 177 pessoas, 43% a mais do que em abril de 2019, um ano recorde em termos de mortes por agentes do estado: 1.810. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

E, em maio, as operações com consequências fatais continuaram.

"Se não morrer de vírus, ou de fome, te matarão com tiros de fuzil, em nome de uma segurança pública que não inclui nosso povo", desabafou o ativista Raull Santiago em suas redes sociais em 15 de maio, quando 13 pessoas foram mortas uma única operação policial no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

A polícia, que apreendeu oito fuzis, afirma que os mortos eram traficantes que os atacaram com armas pesadas.

Apenas três dias depois, outra morte em uma operação policial ganhou as manchetes: João Pedro Mattos Pinto, um negro de 14 anos, foi baleado na casa de seu avô durante uma operação da Polícia Federal (PF) e agentes de elite da Polícia Civil do Rio de Janeiro em São Gonçalo, cidade da região metropolitana.

Segundo os familiares, os agentes invadiram a residência - onde João Pedro brincava com os primos -, atirando e lançando granadas, supostamente em perseguição a criminosos.

O tiroteio deixou mais de 70 buracos de bala nas paredes, janelas e eletrodomésticos.

A polícia levou o garoto, supostamente para prestar socorro, mas não informou seu paradeiro à família, que recuperou seu corpo mais de 17 horas depois, já no necrotério.

"O governo do estado [do RJ] precisa ter coerência: pede o isolamento social, mas ao mesmo tempo envia o seu braço armado para continuar essas operações, causando aglomeração e movimentos de tensão nessas comunidades", disse à AFP João Luís Silva, membro da ONG Rio de Paz, que estava na casa onde o menino foi baleado e acompanhou a família no funeral, do qual participaram dezenas de pessoas.

Outros dois jovens negros foram mortos a tiros durante ações policiais nas favelas da Cidade de Deus e da Providência na semana passada, enquanto ONGs locais distribuíam cestas básicas.

Como em muitos outros casos, os policiais alegam que responderam ao ataque de criminosos.

Pelo menos cinco ações sociais foram interrompidas por tiroteios entre 28 de abril e 21 de maio, de acordo com a plataforma Fogo Cruzado, que coleta informações sobre tiroteios na cidade.

O governador Wilson Witzel - criticado por defensores dos direitos humanos por apoiar o uso da força policial mortal - lamentou a morte do adolescente João Pedro e prometeu uma investigação para "responsabilizar os culpados".

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