INTERNACIONAL

Feminicídios brutais em povoado agrícola mostram alarmante realidade na Venezuela

Denis Reañez descobriu uma folha guardada na bíblia de sua filha com uma canção escrita do seu próprio punho, que agora guarda com carinho

AFP
06/03/2021 às 14:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:34

Denis Reañez descobriu uma folha guardada na bíblia de sua filha com uma canção escrita do seu próprio punho, que agora guarda com carinho.

"Mãe, Deus te abençoe por tudo que você fez", diz um dos versos da música que ela estava preparando para surpreendê-la e que nunca poderá cantar.

Aos 17 anos, foi a primeira vítima de um predador sexual que semeou luto e medo em uma cidade agrícola da Venezuela e disparou alarmes sobre o feminicídio neste país, que teve um aumento no último ano por causa da pandemia.

Eliannys Martínez foi assassinada em 21 de fevereiro em La Misión, uma cidade de 5.000 habitantes no estado de Portuguesa. No dia seguinte, a alguns quarteirões de distância, Eduarlis Falcón, de 20 anos, foi encontrada morta.

"Eles a encontraram morta, de calcinha, sem roupa, de costas, de bruços, isso foi horrível, senti que rasgaram meu peito!", conta Denis, em lágrimas.

O agressor foi preso após ser entregue pela esposa - pode pegar pena máxima de 30 anos - mas a dor e o medo persistem.

Na última semana de fevereiro, soube-se de cinco outros casos, entre os quais o de uma mulher de 33 anos assassinada pelo ex-companheiro, também em Portuguesa, e de uma adolescente em Caracas assassinada pelo namorado. Eles não queriam aceitar o fim do relacionamento.

Somente entre janeiro e fevereiro deste ano, 51 mulheres foram assassinadas na Venezuela, segundo o Parlamento, que aprovou na terça-feira, 2 de março, em uma primeira discussão, uma reforma da Lei sobre o direito da mulher a uma vida livre de violência.

No ano passado, os feminicídios aumentaram para 256, frente aos 167 no ano anterior. A maioria das vítimas tinha entre 16 e 40 anos, de acordo com o Monitor do Femicídio, uma iniciativa da plataforma de comunicação digital Utopix, que registrou um aumento de mais de 50% desses crimes entre 2019 e 2020.

Trata-se de 8,5 feminicídios a cada milhão de habitantes em 2020. No México, um dos países com os maiores índices de violência contra as mulheres, eram 7,4 por milhão de habitantes, segundo dados oficiais questionados por ONGs.

A última vez que Denis teve contato com a mais velha dos seus oito filhos foi na manhã de 21 de fevereiro. Elas se sentaram juntas na pequena igreja que a família frequenta.

No final da cerimônia, Eliannys, uma entusiasta da música que tocava teclado, ficou com vários colegas para ensaiar uma apresentação e nunca mais voltou para casa.

Seu avô, Pedro Reañez, gritava seu nome sem parar entre os campos de feijão e tomate.

Seguindo o conselho de policiais, eles rastrearam galpões abandonados de uma antiga fábrica de tabaco cobertos de mato e trepadeiras.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por