INTERNACIONAL

Fotojornalismo e coronavírus: como capturar o invisível

Eles sabem muito bem o que é uma linha de frente, um posto de controle e um colete à prova de balas, mas quando a pandemia atingiu em escala global os fotojornalistas descobriram um "inimigo invisível" criador de um novo universo

AFP
31/08/2020 às 14:04.
Atualizado em 25/03/2022 às 11:39

Eles sabem muito bem o que é uma linha de frente, um posto de controle e um colete à prova de balas, mas quando a pandemia atingiu em escala global os fotojornalistas descobriram um "inimigo invisível" criador de um novo universo.

Na exposição coletiva "Pandemia (s)", apresentada este ano no festival internacional "Visa pour l"Image" em Perpignan (sul da França), os clichês são eloquentes: a esplanada da Grande Mesquita de Meca está deserta durante a peregrinação anual, Veneza aparece como uma cidade fantasma, em Hong Kong as prateleiras dos supermercados estão vazias e em Nova Delhi um motorista de ônibus se veste de cirurgião da cabeça aos pés.

Confinado em Nova York, o fotógrafo franco-americano Peter Turnley percebeu rapidamente que "esse inimigo invisível iria perturbar a vida" de milhões de pessoas.

"Não havia linhas de frente, mas isso não minimizou o perigo. Parecia mortal. No primeiro dia no metrô, os olhos das poucas pessoas presentes estavam cheios de angústia", explicou este fotógrafo freelance de 65 anos à AFP.

Turnley percorreu a cidade documentando momentos da vida dos sem-teto, lixeiros, enfermeiras, policiais, entregadores. Seus instantâneos em preto e branco são agora o tema de uma exposição dedicada a ele no "Visa pour l"image", o maior festival de fotojornalismo do mundo.

"Eu estava diante de um dos momentos visualmente mais interessantes da minha carreira: em todos os lugares havia fotos, cada pessoa se tornava uma história para contar", diz Turnley.

Do outro lado do oceano, a fotojornalista francês Laurence Geai ficou impaciente em seu apartamento parisiense nos primeiros dias de confinamento.

"Fui contagiada com o coronavírus, não me sentia nada em forma e tive que cancelar todas os pedidos desde o início" da epidemia, conta frustrada por ter "perdido o bonde" deste momento histórico e mundial que "também aconteceu à porta de (sua) casa".

Assim que se curou, a fotojornalista de 36 anos, acostumada aos terrenos bélicos, percorreu Paris para imortalizar o ambiente nas residências para idosos, nas funerárias.

O jornal Le Monde pediu a ela que entrasse em um trem de alta velocidade que transportava pacientes com covid-19 em reanimação de uma cidade para outra.

"Era irreal como aquele "balé" de profissionais que administravam tudo milimetricamente para cuidar dos pacientes era feito no silêncio de uma catedral", lembra.

Laurence Geai queria acima de tudo mostrar a "dignidade" de seus personagens.

"Aqueles funcionários da funerária completamente arrasados, aquela mãe assistindo ao funeral de seu outro filho sozinha com seu filho, aqueles pacientes em terapia intensiva que adormeceram levando a última imagem do médico intubando-os".

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