INTERNACIONAL

Governos autoritários reforçaram seu poder com a covid-19, mas não sua imagem

Em seis meses de pandemia de covid-19, os governos autoritários ou liderados por homens fortes reforçaram seu controle sobre a população, mas sua gestão da crise - frequentemente caótica - prejudicou sua imagem e reputação de eficiência

AFP
10/09/2020 às 11:24.
Atualizado em 25/03/2022 às 02:27

Em seis meses de pandemia de covid-19, os governos autoritários ou liderados por homens fortes reforçaram seu controle sobre a população, mas sua gestão da crise - frequentemente caótica - prejudicou sua imagem e reputação de eficiência.

Da China à Rússia, passando pelo Paquistão e Egito, a Anistia Internacional (AI) denunciou, em um relatório publicado em julho, inúmeros casos de "restrições e instruções para impedir que a equipe de saúde (...) expresse sua preocupação" com a pandemia em cerca de trinta países.

A AI mencionou como exemplo o caso do oftalmologista chinês Li Wenliang, que lançou o alerta em dezembro de 2019 e foi convocado pela polícia e punido por "espalhar rumores".

Li Wenliang morreu em fevereiro, infectado pela doença.

Outro exemplo é o de uma manifestação de médicos contra suas condições de trabalho e falta de recursos no Paquistão, que foi dispersada com violência em 6 de abril em Quetta.

Na China, Turquia, Rússia ou na Ásia Central, "os governos autoritários que querem projetar a imagem de sistemas fortes, mais capazes do que as democracias em administrar este tipo de problema, tomaram diferentes medidas para aumentar seu controle e garantir que não exista nenhuma informação ou opinião alternativa", explica Benno Zogg, pesquisador em política internacional do Centro para Estudos de Segurança (CSS), com sede na Suíça, em uma entrevista para a AFP.

Com exceção de Belarus, onde a gestão caótica da epidemia - que foi minimizada - e as acusações de fraude na reeleição do presidente Alexander Lukashenko desencadearam um protesto sem precedentes, os especialistas não dão conta de grandes ondas de prisões ou de repressão.

A AI denuncia que no Egito "as autoridades usaram acusações amplas e imprecisas, como "espalhar notícias falsas" ou "terrorismo" para prender arbitrariamente" médicos e farmacêuticos.

Nas Filipinas, o presidente Rodrigo Duterte é acusado de ordenar em julho o fechamento do principal canal de televisão ABS-CBN, que criticava a brutalidade de sua política antidrogas.

Seguindo esta mesma linha, sob o pretexto de "combater a desinformação", Rússia e várias ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso adotaram leis que proíbem a divulgação de certas notícias sobre a pandemia.

Na Rússia e Ásia Central, foram constatados outros abusos, como o caso de estudantes de medicina obrigados a trabalhar sem salário e sem proteção suficiente. "Um tipo de escravidão moderna", lamenta Zogg.

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