INTERNACIONAL

Guayaquil ficou sem lugar para doentes e mortos, diz prefeita

Guayaquil, no sudoeste do Equador, sofre, como nenhuma outra cidade latina, a força destruidora da pandemia do novo coronavírus

AFP
14/04/2020 às 17:08.
Atualizado em 31/03/2022 às 04:25

Guayaquil, no sudoeste do Equador, sofre, como nenhuma outra cidade latina, a força destruidora da pandemia do novo coronavírus. Hospitais e cemitérios entraram em colapso, antes mesmo de o pior chegar. "Não há espaço nem para vivos, nem para mortos", disz sua prefeita, Cynthia Viteri.

Em entrevista à AFP, esta advogada, 54, que superou a infecção pelo vírus, está à frente da pior emergência já enfrentada pela cidade, de 2,7 milhões de habitantes.

Foi como se uma bomba tivesse explodido, comenta a prefeita. Guayaquil concentra 71% dos casos detectados no país, incluindo 369 mortos, desde 29 de fevereiro. Autoridades esperam para as próximas semanas até 3.500 mortes na província de Guayas, da qual a cidade é capital.

Cynthia, enérgica, não se esquiva da responsabilidade pela propagação do coronavírus, mas tampouco pensa que Guayaquil deve ser tratada como "vilã".

- Por que Guayaquil não se preparou para esta emergência?

Certamente não estamos preparados. Jamais se pensou que o que víamos em Wuhan, onde pessoas caíam mortas nas ruas, aconteceria aqui.

O que aconteceu com Guayaquil? Aqui a bomba explodiu. Aqui chegou o paciente zero, e como era época de férias, nossos equatorianos viajaram para o exterior, para a Europa, os Estados Unidos, e chegaram pessoas nossas que viviam na Europa.

Quando entraram, não passaram por nenhum controle, como deveria ter sido feito se soubéssemos que isto já vinha pelo ar. E a cidade simplesmente entrou em convulsão. O sistema de saúde, obviamente, transbordou, os necrotérios transbordaram, as funerárias, idem.

Aqui não havia e não há espaço nem para vivos, nem para mortos. Neste ponto está a gravidade da epidemia em Guayaquil.

- Quais são as responsabilidades por este colapso?

Não somos os vilões do mundo. Somos as vítimas de um vírus que chegou pelo ar. Nesta mesma cidade, em 1842, um vírus chegou pela água do Panamá, houve a febre amarela e os mortos eram enterrados em valas comuns.

Agora, vivemos algo que nenhum de nós viveu. Ninguém estava preparado para isto. A responsabilidade é de todos, porque ninguém esperava o que aconteceu no Equador, muito menos em Guayaquil.

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