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Homossexual e candidato, um caso inédito em Mianmar

"Eu não queria mentir". Myo Min Tun é candidato às eleições de 8 de novembro em Mianmar e decidiu não esconder sua homossexualidade em um país onde as relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais, embora a mentalidade dos cidadãos esteja evoluindo a esse respeito

AFP
05/10/2020 às 10:04.
Atualizado em 24/03/2022 às 11:10

"Eu não queria mentir". Myo Min Tun é candidato às eleições de 8 de novembro em Mianmar e decidiu não esconder sua homossexualidade em um país onde as relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais, embora a mentalidade dos cidadãos esteja evoluindo a esse respeito.

O partido de Aung San Suu Kye, a Liga Nacional para a Democracia (LND), não fez praticamente nada pelos direitos da comunidade homossexual desde que chegou ao poder em 2015, de acordo com várias associações.

A lei herdada da era colonial britânica, que pune as relações homossexuais com até dez anos de prisão, não é mais estritamente aplicada, mas ainda está em vigor e é amparada por inúmeras atitudes de discriminação e de assédio, segundo seus críticos.

Myo Min Tun decidiu se lançar na vida política quando seus amigos transexuais lhe contaram sobre a "humilhação e violência da polícia" que estavam sofrendo.

"Percebi que não havia ninguém no Parlamento para falar sobre tudo isso", disse o candidato à AFP.

Em plena campanha eleitoral para renovar o Parlamento e as assembleias regionais, este florista de 39 anos, que aspira a um cargo de vereador em Mandalay (centro), decidiu então mostrar abertamente sua homossexualidade.

"Estou fazendo isso para abrir caminho, para que todas as pessoas LGBT saibam que podemos ser o que quisermos ser", diz o candidato, que também se dedica ao combate à aids em uma ONG.

No ano passado, o suicídio de um bibliotecário, suposta vítima de assédio homofóbico em seu local de trabalho, causou um profundo choque na comunidade homossexual.

A investigação livrou seus patrões de qualquer tipo de responsabilidade e acabou descrevendo o jovem como "fraco mentalmente", o que mostra os preconceitos neste país conservador.

No clero budista, por exemplo, ser gay é visto como punição pelos pecados cometidos em uma vida anterior.

Mianmar está atrás de outros países asiáticos, como a Índia, por exemplo, onde a homossexualidade foi descriminalizada em 2018, embora o tabu esteja caindo lentamente na sociedade.

A Miss Mianmar Swe Zin Htet, representante do país no concurso Miss Universo 2019, teve a coragem de assumir publicamente sua homossexualidade no ano passado, poucos dias antes do concurso.

Em fevereiro, mais de 10.000 pessoas participaram de várias manifestações em Yangun para exigir que a homossexualidade não fosse mais considerada um crime.

Mas, para Myo Min Tun, é prematuro travar essa batalha, e é melhor se limitar - por enquanto - às discriminações sofridas no dia a dia.

O candidato soube que era gay aos 14 anos, quando se apaixonou por um colega de classe. Seu pai, já falecido, nunca aceitou a ideia.

"Sempre estive envolvido na minha comunidade", diz o candidato, que se recusou a ser candidato pelo LND, embora a formação política tenha muitas possibilidades de permanecer no poder após as eleições. A votação foi mantida, apesar do aumento de casos de coronavírus.

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