INTERNACIONAL

Humilhados e abatidos, bielorrussos libertados contam o inferno da repressão

"Pensamos que seríamos enterrados aqui", disse nesta sexta-feira à AFP Iana Bobrovskaya, de 27 anos, ao deixar uma prisão de Minsk, onde foi parar após a violenta repressão aos protestos pós-eleitorais em Belarus

AFP
14/08/2020 às 13:36.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:37

"Pensamos que seríamos enterrados aqui", disse nesta sexta-feira à AFP Iana Bobrovskaya, de 27 anos, ao deixar uma prisão de Minsk, onde foi parar após a violenta repressão aos protestos pós-eleitorais em Belarus.

"Eles podem fazer o que quiserem e nós não temos direitos", disse esta professora de matemática libertada depois de passar quatro dias na prisão, dividindo uma cela com cerca de cinquenta pessoas num espaço destinado a quatro.

No total, pelo menos 6.700 pessoas foram presas em Belarus desde a noite de domingo, durante protestos contra a polêmica vitória presidencial de Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos.

Após sua libertação esta manhã, centenas dessas pessoas descreveram o inferno que experimentaram na detenção, onde foram privadas de comida, água, sono, espancadas e torturadas com eletricidade.

Vários ex-detidos tiveram que ser levados ao hospital em ambulâncias, segundo um jornalista da AFP.

Entre eles, Maxim Dovjenko, de 25 anos, que afirma não ter sequer participado das manifestações, mas que simplesmente estava no local no momento da repressão policial.

"Fui atingido com muita força na cabeça (...), minhas costas ficaram cheias de hematomas depois de apanhar com cassetete (...), queimaram minhas mãos com cigarro", contou ele.

De acordo com a ONG Anistia Internacional, várias mulheres foram ameaçadas de estupro na prisão e os homens foram forçados a ficar de quatro, completamente nus, para serem espancados com cassetetes.

Iana Bobrovskaya disse que não recebeu comida por três dias e não teve papel higiênico nem absorvente. Os guardas diziam às detidas que se enxugassem com suas próprias roupas.

Olessia Stogova, uma russa presa nas ruas de Minsk enquanto participava das manifestações, compara sua estada na prisão a uma estada em uma "câmara de tortura".

Vinda de São Petersburgo para visitar uma amiga em Belarus, esta mulher de 30 anos diz que foi espancada com cassetetes e ameaçada de ser "desfigurada" até "não se reconhecer".

Na cela para quatro pessoas onde foi mantida com cerca de 40 outras mulheres, "éramos como sardinhas enlatadas, de pé, suando", disse à AFP.

"Não conseguíamos respirar", acrescenta Stogova, garantindo que o tratamento dispensado aos homens detidos foi ainda pior.

Ales Pouchkine, famoso artista bielorrusso, preso durante uma manifestação, disse ter sido espancado até "ficar azul".

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