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Indígenas brasileiros interrompem provisoriamente bloqueio em estrada amazônica

Dezenas de indígenas kayapó mekragnoti, que mantinham desde segunda-feira o bloqueio de uma importante rota amazônica no estado do Pará, interromperam provisoriamente as barricadas levantadas no local, verificou a AFP

AFP
18/08/2020 às 14:47.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:32

Dezenas de indígenas kayapó mekragnoti, que mantinham desde segunda-feira o bloqueio de uma importante rota amazônica no estado do Pará, interromperam provisoriamente as barricadas levantadas no local, verificou a AFP.

Os indígenas reabriram a BR-163 pouco antes do meio-dia na altura de Novo Progresso, aguardando receber a notificação de uma ordem judicial de interromper o bloqueio, contou à AFP um membro que coordena o movimento.

Quando receberem a notificação, irão retomar o bloqueio, acrescentou.

O fechamento da rodovia por dezenas de indígenas gerou uma fila de caminhões de aproximadamente 10 quilômetros, carregados principalmente de soja e milho.

Na noite da segunda-feira, uma juíza federal ordenou que o trânsito fosse desbloqueado, alegando "transtornos" causados à "economia regional" e aos "usuários da rodovia", principal via de distribuição da safra do Centro-Oeste aos portos rios da Amazônia para exportação.

Mas até depois do meio-dia desta terça-feira, a notificação não havia chegado ao grupo, informou à AFP o advogado do Instituto Kabú, que representa os kayapó mekragnoti.

Com paus, flechas e facões, os indígenas exigem uma maior ajuda no combate ao coronavírus e uma maior indenização pelos danos ambientais causados pela BR-163, além do fim do desmatamento e do garimpo ilegal em suas reservas.

A BR-163, com mais de 4.500 km de extensão, cruza o Brasil de Norte a Sul, ligando as bacias do Prata e do Amazonas. Foi construída na década de 70 durante a ditadura militar (1964-1985), e neste ano seu asfalto foi finalizado.

Os kayapó mekragnoti, subgrupo da etnia kayapó (da qual faz parte o cacique Raoni Metuktire, ícone da luta pela preservação da Amazônia), vivem nas reservas Baú e Menkragnoti, que juntas têm 6,5 milhões hectares.

Segundo dados da ONG Kabú, dos 1.600 moradores das doze aldeias que compõem as duas reservas, quatro morreram com o vírus e cerca de 400 estão infectados.

Os primeiros casos foram resultado do contato indígena com populações urbanas a partir da presença de garimpeiros ilegais em suas reservas.

Os indígenas são um alvo perfeito para o coronavírus por terem uma menor defesa imunológica e por causa da negligência histórica do Estado a qual estão sujeitos.

Ao todo 618 indígenas morreram e 21 mil foram infectados pelo novo coronavírus no país, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusa o governo Jair Bolsonaro de omissão diante da pandemia.

O Brasil, que possui 212 milhões de habitantes (900.000 deles pertencentes aos povos indígenas), é o segundo país mais afetado pela pandemia no mundo, com registro superior a 108.000 mortes.

jm-js/bn

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