O polêmico projeto de lei britânico que altera as disposições do acordo do Brexit recebeu a primeira aprovação parlamentar nesta segunda-feira(14), apesar da rejeição de alguns parlamentares conservadores contra essa suposta violação da lei internacional que enfurece os europeus
O polêmico projeto de lei britânico que altera as disposições do acordo do Brexit recebeu a primeira aprovação parlamentar nesta segunda-feira(14), apesar da rejeição de alguns parlamentares conservadores contra essa suposta violação da lei internacional que enfurece os europeus.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, justificou a medida pela "ameaça extraordinária" que afirma ser exercida pela União Europeia se as negociações comerciais pós-Brexit falharem, uma acusação negada por líderes europeus.
"Eles ameaçam impor fronteiras alfandegárias por nosso próprio país" entre a Grã Bretanha e a Irlanda do Norte "e dividir nossas próprias terras", afirmou Johnson perante a Câmara dos Comuns ao abrir os debates de seu polêmico "projeto de lei do mercado interno", que em primeira votação foi aprovado por 340 votos contra 263.
A única emenda possível nesta fase foi uma em sua totalidade apresentada pelo Partido Trabalhista, que fracassou devido à inferioridade numérica da oposição e ao desejo dos rebeldes conservadores de tomar as decisões em suas próprias mãos nos próximos dias.
Aproveitando a harmonização pós-brexit do comércio entre as quatro nações do Reino Unido, este texto modifica a aplicação de tarifas e controles alfandegários na Irlanda do Norte previstos no acordo de divórcio com a UE.
Esse tratado internacional, em vigor desde a saída do Reino Unido da UE em 31 de janeiro, prevê um dispositivo pelo qual aquela província britânica manterá as regras do mercado comum europeu para evitar a reimposição de fronteira com a vizinha República da Irlanda.
Seu objetivo é preservar a frágil paz que prevaleceu na ilha desde o Acordo da Sexta-feira Santa de 1998, que encerrou três décadas de conflito sangrento entre republicanos católicos e unionistas republicanos.
Autoridades europeias denunciaram os planos de Johnson como uma ameaça a essa estabilidade e pediram que ele os retirasse antes do final do mês, sob pena de ação legal.
Ele, entretanto, garante que sua intenção é justamente proteger a paz, defendendo os interesses dos irlandeses do norte. E apelou aos deputados para que defendam a "integridade", "soberania" e "liberdades" do país apesar de ter de violar o direito internacional.
Os cinco ex-primeiros-ministros britânicos vivos - John Major, Tony Blair, Gordon Brown, David Cameron e Theresa May - protestaram contra uma medida que prejudicaria a reputação do país e deixaria muitos legisladores do próprio Partido Conservador de Johnson desconfortáveis.
Westminster, portanto, relembra os tempos da insurreição conservadora contra o governo por causa do acordo de divórcio com Bruxelas.
A situação, contudo, é diferente agora: Johnson tem uma maioria esmagadora de 364 assentos que lhe permite perder até 40 votos em suas fileiras.
Vários legisladores conservadores expressaram sua rejeição, do ex-procurador-geral Geoffrey Cox ao ex-ministro das Finanças e do Interior, Sajid Javid, ao deputado Rehman Chishti, que renunciou ao cargo de enviado especial de Johnson para a liberdade de religião.
Mais de uma centena pediu para intervir no debate desta segunda-feira, apesar do fato de a câmara estar quase vazia devido às medidas contra a covid-19 e muitos deputados acompanhando-a online.