CRIMES VIRTUAIS

Levantamento mostra que 81% das vítimas são mulheres

No Dia Internacional da Mulher, uma triste constatação que merece ser solucionada

Juliana Franco
juliana.franco@gazetadepiracicaba.com.br
08/03/2016 às 09:46.
Atualizado em 28/04/2022 às 05:38

Juliana Ricci aconselha a fazer o B.O de difamação quando as fotos vazam (Antonio Trivelin )

Os casos de vazamento de imagens íntimas, popularmente conhecidas como nudes, sem autorização das pessoas que aparecem nas imagens, ganham cada vez mais espaço. É o que afirma a delegada da Delegacia de Defesa da Mulher de Piracicaba (DDM), Juliana Pereira Ricci. “Neste ano, tivemos um caso na cidade, que foi flagrante. Um adolescente e sua mãe estavam extorquindo a sua ex-namorada. Ela enviou para ele algumas fotos íntimas e eles passaram a fazer chantagens. A mãe está presa”, relembra. “Este foi um caso muito grave”, complementa. Levantamento da ONG Safernet, entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, mostra que no ano passado foi registrado maior número de casos de vazamentos de fotos e vídeos íntimos contra a vontade das pessoas expostas. Em 2015, a organização recebeu a notificação de 224 casos do tipo. No ano anterior, foram 101. Os números são de âmbito nacional e as mulheres são 81% das vítimas. A pesquisa mostra que os crimes de vazamento de fotos e vídeos íntimos, com pessoas ofendidas na sua honra são os mais comuns, seguido da pedofilia e fraudes financeiras. “Caiu na internet, fica impossível ter controle ou saber quando e onde estas fotos e vídeos vão parar. Podem ser vistos por milhares de pessoas. O grande problema é que as fotos são feitas e enviadas pelas próprias mulheres, de forma voluntária”, afirma Juliana. “Por isto, aconselhamos as mulheres a não fazerem este tipo de envios”, acrescenta. Segundo a ONG, quando são analisados de maneira mais aprofundada é possível perceber que os casos de sexting — divulgação de conteúdos eróticos com a ajuda da tecnologia de celulares e computadores — podem ser considerados um problema de gênero. Apesar de homens e mulheres compartilharem as imagens, elas são as que mais sofrem com o vazamento de imagens indesejadas. Os homens são apenas 16% do total de queixas e 3% das vítimas não tiveram o gênero identificado. Além de serem do sexo feminino, o perfil das vítimas que têm imagens vazadas é jovem. De acordo com as estatísticas, 53% têm menos de 25 anos de idade. Destas, 25% são menores, com idades entre 12 e 17 anos. “Quando as fotos vazam, o aconselhável é que a vítima faça Boletim de Ocorrência de difamação. Muitas pessoas procuram a Justiça para resolver o caso”, diz a delegada. Vítimas se sentem culpadas De acordo com Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da Safernet, o sentimento de culpa costuma ser comum em casos de vazamento de imagens íntimas. “Geralmente as vítimas sofrem com muitos transtornos mentais, físicos e psicológicos”, afirma. Segundo ela, o perfil dos crimes contra a honra pela internet mudou com a popularização dos smartphones e de aplicativos. “A gente tinha, antes de 2012, imagens mais frequentemente divulgadas em páginas de redes sociais. Os aplicativos aceleraram isso e os números de casos de pornografia de vingança aumentaram”, explica. A psicóloga Luciana Dantas Franco explica que a situação pode causar graves danos às mulheres, como depressão profunda e até tentativas de suicídio. Para ela, as mulheres devem estar atentas aos sinais que podem identificar uma situação de abuso. “A gente tem que desconfiar a partir do momento que documentar a intimidade passa a ser uma insistência. Ele começa a querer fazer alguma coisa diferente, com o discurso de que deseja algo mais excitante. Principalmente em situações de crise no relacionamento”, afirma. Ainda segundo ela, as mulheres mais jovens acabam sendo presas mais fáceis para abusadores por conta da inexperiência, que as leva a confiar no parceiro.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por