INTERNACIONAL

Líder norte-coreano quer mostrar ao mundo uma face mais humana

Sorrisos, lágrimas e até arrependimento. Kim Jong Un, que governa com mão de ferro a Coreia do Norte há 10 anos, deseja, de acordo com vários analistas, mostrar uma nova face, de um dirigente que se preocupa e sofre com seu povo

AFP
13/10/2020 às 09:37.
Atualizado em 24/03/2022 às 13:26

Sorrisos, lágrimas e até arrependimento. Kim Jong Un, que governa com mão de ferro a Coreia do Norte há 10 anos, deseja, de acordo com vários analistas, mostrar uma nova face, de um dirigente que se preocupa e sofre com seu povo.

Durante o grande desfile militar em que o regime exibiu em Pyongyang seus impressionantes mísseis intercontinentais, a voz do líder norte-coreano falhou rapidamente ao mencionar as "lágrimas de gratidão" à população.

Kim agradeceu ao povo e ao Exército por sua lealdade e desejou saúde, em um contexto de pandemia, antes de destacar que o país não registrou nenhum caso de covid-19.

O regime adotou medidas drásticas de proteção, com o fechamento de suas fronteiras desde janeiro, uma decisão que sem dúvida agravou o impacto na população das sanções internacionais para obrigar o país a renunciar a seus programas militares proibidos.

O discurso, exibido com atraso, foi objeto de uma montagem curiosa: as imagens mostram o público depois que Kim elogiou os esforços dos voluntários mobilizados nas catástrofes naturais. Quando o vídeo retorna para a imagem do líder do país, ele é visto guardando um lenço e colocando os óculos, como se tivesse acabado de secar os olhos.

Kim inclusive pediu desculpas aos que talvez tenha decepcionado: "Nosso povo decidiu me dar plena confiança, tão alta quanto o céu, tão profunda quanto o mar, mas não estou à altura.

"Lamento de verdade", completou, de acordo com o texto divulgado pela agência oficial KCNA.

Esta foi a segunda vez em poucas semanas que ele pediu desculpas.

No fim de setembro, a presidência da Coreia do Sul afirmou que recebeu uma carta do Norte na qual Kim Jong Un "lamentava profundamente" a morte de um sul-coreano em suas águas territoriais.

No sábado, o dirigente se comprometeu a ser melhor: "Prometo solenemente de novo, aqui, mostrar-me digno da confiança do povo, sem falta, mesmo que meu corpo precise ser feito em pedaços".

Esta declaração pode parecer coerente com os princípio de uma dinastia que, há 70 anos, afirma sacrificar-se por seu povo.

Mas o reconhecimento de Kim Jong Un de sua própria fragilidade contrasta com a propaganda nacional da época de seu avô, Kim Il Sung, o fundador do regime, e de seu pai Kim Jong Il.

Desde sua chegada ao poder, Kim Jong Un busca o distanciamento do culto à personalidade. A prova é que há poucos retratos dele no país.

Para a ex-analista do governo americano Rachel Lee, o desfile de sábado ficou "longe da norma".

O discurso de Kim Jong Un, "dedicado ao povo, foi cuidadosamente calibrado para que parecesse sincero e acessível", explica à AFP.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por