O número de migrantes menores de idade que cruzam desacompanhados o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido aumentou durante a pandemia de coronavírus, enquanto as restrições de movimento os impelem a tentar atravessar de barco em vez de caminhão
O número de migrantes menores de idade que cruzam desacompanhados o Canal da Mancha para chegar ao Reino Unido aumentou durante a pandemia de coronavírus, enquanto as restrições de movimento os impelem a tentar atravessar de barco em vez de caminhão.
"Estamos vendo um número crescente de jovens atravessando por via marítima o Canal da Mancha para pedir asilo no Reino Unido", disse à AFP Roger Gough, que preside o conselho do condado de Kent, na região sudeste da Inglaterra, onde está localizado o porto de Dover.
Há um ano, o município lidava com "230 a 250 jovens" migrantes, "esse número quase dobrou e está perto de 470", apontou. E "as novas chegadas não param".
As tentativas dos migrantes de cruzar o Canal da Mancha aumentaram desde o final de 2018, apesar do perigo representado pelo denso tráfego marítimo, correntes fortes e baixas temperaturas da água.
Em 2019, as autoridades francesas e britânicas resgataram 2.758 migrantes, quatro vezes mais que em 2018.
A pandemia reforçou essa tendência, pois a diminuição do tráfego de veículos pesados levou os migrantes a tentar a travessia em pequenas embarcações.
"Costumávamos ver esses jovens atravessando em caminhões. Essa era a rota típica", disse Gough. Mas recentemente, "com as medidas de confinamento na Europa, a redução dos fretes, eles estão chegando ao país em barcos".
Pelo menos 1.000 migrantes chegaram ao Reino Unido em pequenos barcos desde o anúncio do confinamento em 23 de março, segundo uma contagem da agência britânica PA, com pelo menos 145 somente no dia 8 de maio.
Desde o início do ano, as forças de segurança francesas registraram 230 tentativas de travessia, 79 delas em abril.
"O novo fator desde o confinamento é o clima, que é muito mais favorável para viagens marítimas, com noites calmas e um pouco de nebulosidade. Como resultado, a taxa de sucesso aumentou de 60% a 80%, o que também atrai migrantes para Calais, na costa norte da França, explica a autoridade francesa François Guennoc.
Além disso, "com o confinamento, as praias foram fechadas e os migrantes se beneficiam indiretamente do fato de que muitos moradores locais que nos informavam sobre tentativas de travessia não podem mais fazê-lo", acrescentou uma fonte policial francesa especializada em questões de migração em Calais.
Segundo Gough, "os jovens que chegam agora têm geralmente 16 e 17 anos", a maioria deles iranianos, iraquianos e afegãos.
Seu condado enfrenta o delicado desafio de hospedá-los, respeitando as medidas de distanciamento físico para impedir a transmissão da COVID-19, aumentando a "pressão financeira".
O condado, que costumava ter apenas um centro de acolhimento de migrantes, agora possui três.